Abel Ferreira: Futebol Brasileiro Alcança Nível Europeu? Análise Crítica

A iminente realização de uma Copa do Mundo de Clubes em um formato expandido, com trinta e duas equipes representando os cinco continentes e suas intrínsecas variações de qualidade técnica, inevitavelmente reacende um debate perene no cenário do futebol: a incessante comparação entre as potências sul-americanas e seus congêneres europeus. Foi nesse contexto que o técnico Abel Ferreira, do Palmeiras, proferiu declarações que instigam uma profunda reflexão sobre a real disparidade entre os estilos de jogo e a percepção que se tem da excelência.

O comandante português, conhecido por sua franqueza e perspicácia tática, fez questão de sublinhar seu profundo vínculo com o futebol brasileiro. ?Tenho muito orgulho de estar no Brasil, tive muitas possibilidades de sair e não saí?, declarou o treinador, evidenciando sua escolha consciente de permanecer no país, apesar das inúmeras propostas que surgiram ao longo de sua trajetória vitoriosa.

O Cenário Global e o Debate sobre a Qualidade do Futebol

À frente de um Palmeiras que demonstrou notável intensidade no recente embate sem gols contra o Porto, e com a preparação para o confronto iminente contra o Al Ahly, Abel Ferreira defende veementemente a qualidade do futebol praticado no Brasil. Para ele, a suposta diferença entre o futebol sul-americano e o europeu reside muito mais na forma como se enxerga o próprio trabalho, e menos em uma deficiência intrínseca. A chave, segundo o técnico, reside na criação de condições adequadas para o desenvolvimento pleno das atividades.

?No Brasil é bom entender que a diferença está no nosso pensamento, no que acredito. Se acreditar que sou inferior aos outros, vou ser mesmo. Se acredito que com trabalho posso organizar, não tem nada a ver com a nacionalidade?, sentenciou o treinador, expondo uma filosofia que transcende a técnica e adentra o campo da psicologia coletiva. Sua tese é clara: a autoconfiança e a organização superam qualquer barreira de nacionalidade ou origem.

A Percepção como Pilar da Competitividade Brasileira

Ainda nesse sentido, Abel Ferreira argumenta que a qualidade do espetáculo e a competitividade dos jogos se elevam exponencialmente quando há um ambiente propício para o trabalho. ?Quando nós damos condições de trabalho, para que o treinador descanse, o jogo fica competitivo e dinâmico. E a visão que tinha do futebol brasileiro vai por água abaixo, a diferença é mínima, é competir. Vamos competir, e temos tempo para nos preparar cada vez mais?, afirmou. Essa visão sugere que a lacuna, se é que existe, pode ser facilmente transposta com investimento em estrutura e bem-estar dos profissionais.

O técnico aponta que o futebol brasileiro necessita apenas de ?pequenos detalhes? para se aprimorar. Ele refuta a ideia de que o volume de jogos no Brasil seja uma desculpa válida para uma eventual disparidade de intensidade com equipes europeias. ?O Porto tem 50 jogos e temos mais de 30. São desculpas?, asseverou. Essa observação é um contraponto direto à narrativa comum de que clubes europeus, por estarem no final de suas temporadas, apresentariam um ritmo superior. Abel ressalta que o calendário brasileiro, mesmo em meio às competições, impõe um volume de partidas similar ao total disputado na Europa, desqualificando o argumento da fadiga como fator decisivo.

Desmistificando o Calendário: O Volume de Jogos como Falsa Justificativa

A crítica de Abel Ferreira se estende à percepção geral da dificuldade dos confrontos no futebol contemporâneo. Ele insiste que a era dos ?jogos fáceis? é uma quimera do passado. Para ilustrar seu ponto, o treinador evoca exemplos recentes do cenário internacional: ?Hoje não há jogos fáceis, no último campeonato do mundo de seleções, viram o Marrocos? Alguém diria que a Itália seria eliminada pela Macedônia? O futebol mudou muito nos últimos 10, 15 anos?. Essas referências servem para solidificar a ideia de que a globalização do esporte e o aprimoramento tático disseminaram a competitividade por todos os quadrantes do planeta.

O treinador palmeirense demonstra convicção no crescente número de profissionais qualificados no Brasil, tanto entre os estrategistas quanto entre os atletas. ?Acredito que há cada vez mais treinadores qualificados, equipes qualificadas, com possibilidade de buscar jogadores com mais recursos técnicos, mais eficientes, que não conheço jogador 100% eficiente?, ponderou. Essa perspectiva otimista, contudo, não o impede de cobrar constantemente por aprimoramentos, como a melhora nas finalizações do Palmeiras , um aspecto crucial para transformar a superioridade tática em resultados práticos.

A Evolução Inegável do Futebol Moderno e a Paridade no Campo

A preparação minuciosa do Palmeiras , inclusive com treinamentos em campos com gramado mais seco, visando a adaptação para o jogo contra o Al Ahly, é um testemunho da crença de Abel na importância dos detalhes. Em suma, a visão de Abel Ferreira é um convite à superação de preconceitos e à valorização do potencial intrínseco ao futebol brasileiro, que, com as devidas condições e uma mentalidade vencedora, está mais do que apto a competir de igual para igual com qualquer potência global.