Abel Ferreira: O Legado Incontestável no Palmeiras e a Supremacia Tática no Futebol Brasileiro

A apreensão sobre a solidez e a "casca" do elenco palmeirense, após uma significativa reestruturação nesta temporada, foi decisivamente superada. A eliminação do River Plate nas quartas de final da Libertadores, com notável autoridade, serviu como o teste definitivo. Contudo, apesar do desempenho promissor de atletas como Flaco López e Victor Roque, a figura central e mais influente da equipe permanece inabalável no banco de reservas: Abel Ferreira.

Recentemente, o cenário parecia desenhar um desfecho melancólico para a trajetória do técnico português no Palmeiras, especialmente após a eliminação para o Corinthians na Copa do Brasil. Naquele momento, os gritos de ?burro? nas arquibancadas do Allianz Parque ressoaram, marcando o que muitos interpretaram como o fim de um relacionamento de amor incondicional entre o treinador e a torcida.

Mesmo após a vitória crucial sobre o time argentino, Abel demonstrou que, apesar de quase cinco anos de vivência no Brasil, e embora possa sentir-se ?palmeirense como a gente?, como a canção sugere, ele ainda enfrenta dificuldades para compreender a intensidade passional dos brasileiros. O perdão, para ele, parece ser um caminho árduo. O português expressou claramente que não esquece o que ouviu e que o seu ?coração ainda sangra?.

O Legado Incontestável de Abel Ferreira no Verdão

Independentemente das mágoas pessoais e das críticas efêmeras, o trabalho de Abel Ferreira é inegavelmente sólido. Com uma impressionante marca de 10 títulos, ele divide o posto de técnico mais vitorioso da história do clube com Oswaldo Brandão. Entretanto, não seria um exagero argumentar que sua influência o eleva à posição de maior treinador nos 111 anos do Alviverde, consolidando-o como o melhor técnico do futebol brasileiro na última década.

Os torcedores flamenguistas, naturalmente, poderiam evocar o nome de Jorge Jesus. Contudo, o futebol, em sua essência, também valoriza a regularidade e a construção de um projeto a longo prazo. O "Mister" permaneceu apenas um ano no Rio de Janeiro, entregando um período de seis meses de futebol encantador. A questão que se impõe é: ele teria a capacidade de superar uma fase de adversidade prolongada?

Ademais, é impensável não abrir um debate sobre se este não é o trabalho mais notável do século no futebol brasileiro. Ao considerarmos Tite no Corinthians e Muricy Ramalho no São Paulo, ambos, apesar de seus feitos, não conseguiram reinventar suas equipes após atingirem o ápice de seus respectivos ciclos. Tite, é verdade, possui o diferencial do título mundial no Japão, mas a capacidade de reinvenção de Abel é ímpar.

A Supremacia Tática e a Reinvenção Constante

A consistência de Abel Ferreira na Copa Libertadores é um testemunho de sua excelência. Em seis edições disputadas, ele está prestes a alcançar sua quinta semifinal. A única vez em que ficou pelo caminho foi no ano passado, nas oitavas de final, contra o futuro campeão Botafogo, um detalhe que apenas realça a dificuldade da competição.

Nesta temporada, o técnico tem à sua disposição o melhor elenco desde que desembarcou em São Paulo em novembro de 2020. Contudo, essa evolução exigiu sacrifícios, com a necessidade de abrir mão de nomes que foram fundamentais na construção do Palmeiras supercampeão dos anos recentes.

O Palmeiras de Abel Ferreira, embora nem sempre ostente um futebol brilhante, é invariavelmente competitivo. Na Argentina, o português aplicou um "nó tático" em Marcelo Gallardo. O argentino, em resposta, conseguiu encurralar o Verdão nos primeiros 45 minutos no Allianz Parque. Foram necessários apenas 15 minutos de intervalo para Abel reorganizar a equipe e garantir a vaga na etapa final, evidenciando sua perspicácia.

Abel já deixou claro que não aprecia ser rotulado como ?ranzinza?. No entanto, em seus quase 60 meses em território brasileiro, ele demonstrou uma notável capacidade de se reinventar taticamente em diversas ocasiões, adaptando o time a diferentes esquemas. Além disso, a sua ?personagem? nas coletivas de imprensa frequentemente se torna o principal motivo de irritação para jornalistas e rivais, consolidando sua imagem complexa e multifacetada.