Abel Ferreira Responde Crespo: O Segredo do Modelo Financeiro do Palmeiras

A afirmação de Hernán Crespo, técnico do São Paulo, de que Flamengo e Palmeiras operam em uma "outra dimensão" no panorama nacional e continental reverberou nos bastidores do futebol brasileiro. Abel Ferreira, comandante do Verdão, não tardou a comentar a declaração do argentino, fazendo-o após o clássico contra o Santos, em uma análise que transcendeu a mera resposta e mergulhou nas entranhas da construção de um modelo de sucesso.

Em coletiva no Allianz Parque, sucedendo a vitória por 2 a 0 pelo Campeonato Brasileiro, Abel Ferreira abordou a fala de seu colega de profissão, com quem, segundo ele, cultivou uma amizade, chegando a serem vizinhos durante a primeira passagem de Crespo pelo São Paulo. O técnico português utilizou um tom descontraído para parafrasear a observação do ex-atacante, mas rapidamente direcionou o foco para a complexidade por trás da percepção de bonança financeira no Alviverde.

A "resposta" do treinador português surgiu no contexto de seus elogios a Allan, uma promessa da base palmeirense, evidenciando o recorrente e bem-sucedido histórico de vendas de jovens talentos formados no próprio clube. Abel fez questão de desmistificar a ideia de que o Palmeiras sempre desfrutou de uma situação financeira privilegiada, traçando um panorama da evolução do clube.

O Caminho da Estabilização Financeira do Verdão

A visão de Abel Ferreira sobre a trajetória do Palmeiras para alcançar seu patamar atual é didática. Ele contextualizou a situação financeira do clube em sua chegada ao Brasil, contrastando-a com a percepção atual. A ironia inicial sobre o "dinheiro" do Palmeiras serviu como um prelúdio para uma explicação mais profunda sobre a gestão e o planejamento estratégico.

Eu vi o meu amigo Crespo falando que 'o Palmeiras tem dinheiro'. Eu queria dizer que, quando ele chegou e éramos vizinhos, eu tinha o mesmo dinheiro que ele. Quando eu o convidei para ir em casa jantar, quem pagou fui eu, não ele, mas na altura o Palmeiras não tinha assim tanto dinheiro,

brincou o técnico, antes de aprofundar a narrativa sobre como o clube de fato construiu sua estabilidade. A explicação reside em um ciclo virtuoso de investimentos e retornos, onde a base desempenha um papel central.

O processo, conforme detalhado por Abel, iniciou-se com uma aposta robusta nas categorias de base. A venda de jogadores formados no clube não apenas gerou receita, mas também estabilizou as finanças. Os títulos conquistados, por sua vez, trouxeram prestígio, que se converteu em novos patrocínios e na valorização da marca Palmeiras . É um encadeamento lógico de causas e efeitos, onde cada etapa impulsiona a próxima.

Gestão Responsável e o Ciclo Virtuoso do Sucesso

Abel Ferreira sublinhou que a atual saúde financeira do Palmeiras é resultado de uma "gestão responsável", uma premissa frequentemente reiterada pela presidente e pelo diretor de futebol, Anderson Barros. Ele destacou que, em função das recentes e significativas vendas, como as de Richard Ríos e Estêvão, o clube se vê na posição de poder investir para manter seu crescimento e competitividade, desmistificando a ideia de que o dinheiro simplesmente "aparece".

A metáfora dos "crocodilos no bolso" foi utilizada por Abel como uma brincadeira para reforçar que o capital não surge do nada, mas é fruto de um trabalho árduo e de processos bem definidos. "O dinheiro se ganha trabalhando com processos, acreditando em algo", enfatizou o treinador. A transformação do Palmeiras , desde a chegada da atual comissão técnica, ilustra esse ciclo: "apostar na base, títulos, prestígio, valorização do clube, valorização da marca, patrocínios, sócios, futebol que as pessoas gostam de ver."

A fala de Abel Ferreira, portanto, transcende uma mera réplica. Ela oferece uma aula sobre gestão esportiva e financeira, revelando que a "dimensão" que o Palmeiras alcançou não é um acaso, mas a culminação de um planejamento estratégico meticuloso e de um compromisso inabalável com o desenvolvimento de talentos e a busca por resultados.