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Desvende a Fundação do Palmeiras: O Impacto Crucial do Jornal Fanfulla no Palestra Italia

Por Redação FutVerdão em 04/07/2025 08:41

No limiar do século XIX para o XX, a efervescente capital paulista, com sua população aproximada de 250 mil habitantes, testemunhava o florescimento do futebol. A elite local, reconhecendo o potencial do esporte, dedicava-se fervorosamente à sua propagação, consolidando São Paulo como o berço da modalidade organizada no Brasil, com a instauração de regras formais e a construção de estádios incipientes.

Contudo, a imprensa dominante da época, representada por veículos como O Estado de S. Paulo e o Correio Paulistano, demonstrava notável indiferença aos clubes emergentes das camadas populares. Havia uma clara relutância em cobrir as atividades esportivas que floresciam nas periferias da metrópole, justamente onde o futebol se enraizava e expandia, ocupando campos de terra batida e os vastos terrenos de várzea.

A presença maciça do povo nos estádios, mesmo quando ocasional, passava em grande parte despercebida pelos cronistas esportivos, que optavam por enaltecer as virtudes dos aficionados da elite e de seus respectivos clubes. Num esforço para conter a crescente popularização do futebol, os responsáveis pela organização dos campeonatos implementaram a cobrança de ingressos. A intenção explícita era impedir que "os aficcionados da periferia" tomassem conta dos gramados, conforme meticulosamente detalhado pelo jornalista André Ribeiro em sua obra "Os Donos do Espetáculo: Histórias da Imprensa Esportiva do Brasil".

O Amanhecer do Futebol Popular em São Paulo

A partir de 1903, essa dinâmica começou a se alterar com a ascensão da Fanfulla. Embora modesta em comparação com os gigantes da mídia da época e redigida em italiano, a publicação assumiu a vanguarda na cobertura dos confrontos e na divulgação dos placares dos clubes varzeanos, preenchendo uma lacuna crucial na cobertura esportiva.

Para os imigrantes, majoritariamente trabalhadores de baixa renda, a leitura da Fanfulla, fundada em 1893, transcendeu a mera informação; era um ato de afirmação identitária. Essa profunda ligação emocional com suas páginas foi o catalisador que impulsionou Vicente Ragognetti a redigir uma missiva histórica, que transformaria para sempre o cenário do futebol paulista.

Segundo a professora Teresa Malatian, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o início do século passado foi marcado pelo surgimento de "um público urbano letrado em movimento crescente", fruto direto do êxodo de ex-colonos das áreas rurais para os centros urbanos, impulsionados pelo avanço da industrialização. Esse novo contingente populacional, sedento por informações e representatividade, encontrou na Fanfulla um eco para suas aspirações e uma voz para suas paixões.

Fanfulla: A Voz Que Moldou uma Era

O crescimento da Fanfulla foi notável, consolidando sua posição como um veículo de comunicação de massa para a comunidade imigrante. Seus números de circulação são um testemunho de sua relevância:

Ano Tiragem Diária Fanfulla Comparativo (Jornais Tradicionais)
1910 15.000 exemplares -
Anos 1920 (Jornal de maior circulação) Média de 20.000 exemplares (Ex: O Estado de S. Paulo)
1934 40.000 exemplares -

Tão expressiva foi essa ascensão que André Ribeiro ressalta que o periódico "entrou para a história como o jornal de maior circulação na década de 1920", um feito que sublinha sua profunda influência e ressonância com o público da época.

O Gênese Palestrino e o Legado da Fanfulla

No alvorecer do século XX, uma publicação modesta, mas audaz, escrita em italiano e conhecida como Fanfulla, desafiou a hegemonia da grande mídia de São Paulo. Seu feito notável foi a cobertura abrangente do futebol de várzea, uma esfera ignorada pelos veículos estabelecidos. Entre os marcos mais significativos de sua trajetória, destaca-se o papel crucial na gênese do que viria a ser a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Na missiva enviada por Vicente Ragognetti, ele propunha que o periódico se tornasse o "portador e propagandista" de um "clube de futebol italiano", um apelo que ressoou profundamente e pavimentou o caminho para a criação de uma das maiores instituições esportivas do país. Essa correspondência, um verdadeiro marco inaugural para a formação do Palestra Italia, foi veiculada na edição de 13 de agosto de 1914 da Fanfulla.

Mal se passariam treze dias e, em 26 de agosto, o clube que hoje conhecemos como Sociedade Esportiva Palmeiras , um gigante que anseia por mais conquistas globais, era oficialmente constituído. O registro do primeiro confronto oficial do Palestra Italia, um evento de grande expectativa, foi prontamente divulgado pela Fanfulla em 14 de agosto de 1916. A equipe iniciou sua jornada competitiva com um empate de 1 a 1 contra o Mackenzie, em partida válida pelo torneio organizado pela Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA).

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