Palmeiras x Borussia Dortmund: A Lenda do 6 a 1 no Castelão (1996)

Enquanto o Palmeiras se prepara para um confronto decisivo na Filadélfia, pela Copa do Mundo de Clubes da Fifa, onde um reencontro com o Borussia Dortmund é uma possibilidade latente em uma eventual final, a memória de um embate épico de quase três décadas atrás ressurge com força. Em 1996, o Alviverde protagonizou uma das noites mais memoráveis de sua história recente, em um espetáculo que marcou o cenário esportivo de Fortaleza.

A Memória Viva de um Confronto Épico

No dia 23 de janeiro de 1996, o Estádio Castelão, no Ceará, foi palco de uma demonstração de força inquestionável do Palmeiras sobre o então bicampeão alemão, Borussia Dortmund. O placar final, um estrondoso 6 a 1, ecoa até hoje como um dos feitos mais surpreendentes do futebol brasileiro contra uma potência europeia. Nomes como Rivaldo, Luizão, Cafu e Elivélton foram os arquitetos dessa goleada histórica, com Rivaldo, em particular, assinando uma atuação memorável com três tentos.

Este triunfo colossal, embora possa parecer um evento inusitado no calendário do futebol, insere-se no contexto da Copa Euro-América de 1996. Uma competição de caráter amistoso, mas de alto nível, organizada como um triangular que também contou com a participação do Flamengo, adicionando um tempero especial aos confrontos.

O Poderoso Adversário e a Injeção de Expectativa

O Borussia Dortmund desembarcava em solo brasileiro com o prestígio de ser o atual bicampeão da Alemanha, uma equipe em ascensão que, no ano seguinte, viria a se sagrar campeã da UEFA Champions League na temporada 1996/1997 e, posteriormente, do Mundial de Clubes. O desafio para o clube paulista era, portanto, de uma magnitude considerável, e a expectativa pairava sobre como o time de Vanderlei Luxemburgo se portaria diante de um oponente de tal calibre.

Moacir Brandão, torcedor palmeirense desde os sete anos de idade e hoje com 46, recorda-se vividamente da atmosfera pré-jogo, mesmo tendo acompanhado o duelo de sua residência. "A expectativa era ver como o Palmeiras enfrentaria um dos grandes times europeus da época, bicampeão alemão e em ascensão nas competições europeias. O Palmeiras não vinha se dando bem na Libertadores de 94 e 95, apesar do elenco. Enfrentar o Dortmund parecia ser algo bem complicado", relata Brandão.

A chegada da delegação palmeirense em Fortaleza, na noite de 22 de janeiro de 1996, já prenunciava a paixão que a equipe despertava. Embora a recepção tenha sido "inferior à que recebeu o Flamengo. Em menor número, porém, mais vibrante", conforme noticiado pelo jornal Diário do Nordeste na época, a energia dos torcedores alviverdes era palpável.

A Orquestra Verde e Branca de Luxemburgo

À frente do Palmeiras de 1996, popularmente conhecido como o "time dos 100 gols" devido à sua campanha avassaladora no Campeonato Paulista, estava uma constelação de talentos. O Borussia Dortmund, por sua vez, contava com estrelas como Matthias Sammer e Andreas Möller, pilares da seleção alemã, além do suíço Chapuisat. Contudo, nem a força individual desses atletas foi suficiente para conter a fúria do Verdão sob o comando de Vanderlei Luxemburgo.

A linha de ataque palmeirense naquela tarde era um terror para qualquer defesa, composta por Rivaldo, Muller e Luizão. Djalminha, recém-contratado, não participou do torneio, mas a equipe titular de Luxemburgo ainda contava com Velloso no gol, Gustavo, Sandro, Cléber e Júnior na defesa, e Galeano, Cafu e Marco Ósio no meio-campo, formando um elenco de rara qualidade.

Moacir Brandão, com a nostalgia de quem presenciou algo singular, complementa: "Nesse dia eu tive a certeza que estava vendo um dos melhores elencos já montados por qualquer clube brasileiro. Não era um futebol para resultados mirrados de 1 a 0 ou aborrecidos 0 a 0. Era futebol para ficar rouco de tanto gritar gol. Pena que só durou seis meses".

O Desfile de Gols e a Repercussão Estrondosa

O espetáculo de gols começou aos 25 minutos do primeiro tempo, com Rivaldo convertendo uma penalidade máxima, um prenúncio do que estava por vir. Luizão, aos 43 minutos, ampliou o marcador, levando o Palmeiras para o intervalo com uma vantagem confortável. O Borussia ainda tentou reagir no segundo tempo, diminuindo aos sete minutos com Tretschok, acendendo uma breve esperança de recuperação para os alemães.

Contudo, a máquina palmeirense estava imparável. Aos 24 minutos, Rivaldo novamente balançou as redes. Cafu, aos 34, deu sequência à implacável goleada que se desenhava para o Borussia. Aos 39, Rivaldo completou seu hat-trick, marcando o quinto gol do Palmeiras , e Elivélton, aos 43, selou o placar final em 6 a 1, consolidando uma vitória histórica.

A repercussão no dia seguinte foi imediata e enfática. O Diário do Nordeste, em sua página 20, estampou: "Academia dá show no Castelão". O Palmeiras não apenas goleava, mas quebrava uma invencibilidade de oito meses do "todo-poderoso" Borussia Dortmund. Tom Barros, colunista do mesmo jornal, já havia expressado sua expectativa antes do jogo: "otimismo é o que não falta ao Palmeiras , que quer ser bicampeão da Euro-América Cup. Time que tem Velloso, Cafu, Rivaldo e Cléber não poderia pensar de outra forma. O jogo de hoje é imperdível".

O Legado de uma Temporada Inesquecível

Aquele confronto, apesar de amistoso, serviu como um presságio para a temporada espetacular que o Palmeiras viveria em 1996. Em 30 jogos oficiais disputados naquele ano, o clube registrou 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Além disso, alcançou um feito histórico no Campeonato Paulista, marcando 102 gols e sofrendo apenas 19, um testemunho de sua força ofensiva e solidez defensiva.

Para Moacir Brandão, a equipe de 1996 representou um ápice. "Foi o prenúncio de um time fantástico que marcou 102 gols em 30 partidas pelo Paulista. Durou um semestre, mas entrou para história pelo que fez e pelo que poderia ter feito. Djalminha, Rivaldo, Luizão, Muller e Cafu... Um elenco que seria desfeito pelo apetite do Deportivo La Coruna, que levou esses três primeiros. Teria sido a Terceira Academia", lamenta o torcedor, refletindo sobre o potencial que poderia ter se concretizado por mais tempo.

A Copa Euro-América culminou com o Palmeiras sagrando-se campeão. Após o empate do Flamengo com o Borussia Dortmund em 1 a 1, um simples empate era suficiente para o Alviverde na última partida. O confronto contra o Rubro-Negro carioca, com Romário abrindo o placar e Rivaldo empatando, consolidou o título para o Palmeiras , encerrando a competição de forma gloriosa.

Passados 29 anos, o Palmeiras retorna aos gramados neste sábado (28), em jogo decisivo contra o Botafogo, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa. A partida acontece às 13h (de Brasília), na Filadélfia, nos Estados Unidos. O Borussia Dortmund também está na competição, e um reencontro entre os dois gigantes só será possível em uma eventual final. A esperança de reviver a magia daquela noite de 1996, com uma nova vitória sobre o time alemão, permanece viva na mente dos torcedores alviverdes.