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Palmeiras X São Paulo: A Manobra Genial que Trouxe Cafu ao Verdão

Por Redação FutVerdão em 11/10/2025 08:11

A rivalidade entre Palmeiras e Juventude, que se reencontram neste sábado no Allianz Parque, remonta a um capítulo singular do futebol nacional nos anos 90, marcado por uma transação que redefiniu paradigmas. Há exatas três décadas, em 1995, esses dois clubes, com o Palmeiras na figura de arquiteto e o Juventude como peça fundamental, protagonizaram uma das manobras de mercado mais audaciosas da história para assegurar a contratação de Cafu, um lateral-direito que já havia gravado seu nome na história do São Paulo, o grande rival.

O pano de fundo dessa saga começa em janeiro de 1995, quando Cafu, após uma trajetória vitoriosa pelo São Paulo entre 1989 e 1994, com conquistas notáveis como o bicampeonato da Libertadores e do Mundial em 1992 e 1993, foi transferido para o Zaragoza, da Espanha, por 3,6 milhões de dólares. Contudo, essa negociação carregava uma cláusula estratégica, inserida pelo São Paulo, visando impedir um retorno direto do atleta ao Palmeiras , um adversário que, sob a gestão da Parmalat, vivia uma era de investimentos massivos e múltiplos títulos.

A Intrincada Trama do Mercado da Bola

A ambição do Palmeiras em ter Cafu era palpável. José Carlos Brunoro, executivo de futebol do Verdão na era Parmalat, confirmou a complexidade da situação. "A gente sabia que se fosse comprar direto do São Paulo, não venderia, porque era um astro deles. Ele estava sendo negociado com um time espanhol e fiz uma ponta para comprar uma parte pelo clube espanhol, compraríamos em conjunto", revelou Brunoro ao ge, expondo o início de um plano meticuloso.

O São Paulo, ciente do potencial de seu rival em atrair grandes nomes, impôs uma condição clara: qualquer transferência de Cafu para o Palmeiras , antes de 1996, acarretaria o pagamento de uma multa de 3,6 milhões de dólares. Para contornar essa barreira, a passagem efêmera pelo Juventude foi concebida como uma solução engenhosa, uma verdadeira jogada de mestre no xadrez do futebol.

Cafu, por sua vez, recordou os detalhes de seu contrato inicial com o Zaragoza, que previa um período de adaptação. "Eu fui para o Zaragoza na intenção de ficar quatro anos, fiz um contrato de seis meses com extensão de quatro anos, para caso não me adaptasse. E acabei não me adaptando mesmo. Só que no meu contrato tinha uma cláusula que eu não poderia voltar para o Palmeiras . Específica", narrou o pentacampeão mundial ao ge, evidenciando a consciência da manobra.

A Estratégia do Juventude e o Retorno Imediato

O retorno ao Brasil foi arquitetado com precisão. "O Brunoro falou comigo, estava no Zaragoza, mas ele me queria na Parmalat de todo jeito. Antes de eu ir, tinha falado que o sonho do presidente era ter você no Palmeiras . Eles foram lá e falaram: 'olha, existe a possibilidade de você voltar para o Brasil'. Eu falei: 'mas eu não posso voltar para o Palmeiras '. Não. Mas você pode voltar para o Juventude", detalhou Cafu, ilustrando a sutileza da negociação.

No início de julho daquele ano, apenas seis meses após sua ida à Espanha, Cafu estava de volta ao futebol brasileiro, formalmente acertado com o Juventude. Contudo, sua permanência em Caxias do Sul foi quase simbólica. Após somente dois jogos e um período de apenas 20 dias com a camisa alviverde gaúcha, o lateral-direito já se preparava para estrear pelo Palmeiras , em um confronto crucial pela Libertadores contra o Grêmio.

Cafu compartilhou, com um tom bem-humorado, a breve experiência no sul. "Fiquei no Juventude um mês, um frio lá, levei até meu filho. Falei para ele: 'o pai só vai ficar lá um mês, você fica comigo e depois vamos voltar para o Palmeiras '. O Palmeiras foi lá, falou comigo e resolveu os contratos. Eu fui. Queriam que eu ficasse no Juventude disputando o campeonato inteiro. E o Palmeiras já ia disputar o jogo da Libertadores contra o Grêmio. Falei não, eu quero voltar para o Palmeiras , porque quero jogar contra o Grêmio." Ele ainda completou: "Engordei lá em Caxias, voltei de Caxias gigante. Comia Javali, polenta. Falava: 'Meu Deus do céu, que cidade maravilhosa (risos)'. Um frio, vinho bom, polenta boa, javali bom, voltei de lá cinco quilos a mais. Volto para o Palmeiras e já tinha o jogo contra o Grêmio."

As Consequências e o Legado de uma Negociação Memorável

A rápida integração de Cafu ao Palmeiras foi imediata. Em seu terceiro jogo, contra o Grêmio, ele marcou dois gols na goleada por 5 a 1, mesmo que o resultado não tenha evitado a eliminação na Libertadores daquele ano. Sua performance o alçou rapidamente a um dos pilares da equipe. O São Paulo, contudo, não permaneceu inerte diante da manobra, buscando a Fifa sob a alegação de que o rival havia burlado o acordo original de venda ao Zaragoza.

Apesar da disputa legal, o Palmeiras não hesitou em arcar com as consequências financeiras. "O São Paulo cobrou uma multa de um milhão (de dólares). Eu disse para o Brunoro, que falou: 'pago com o maior prazer'", relatou Cafu, confirmando a disposição do Verdão em selar a transação. Brunoro corroborou a versão do jogador, detalhando a estratégia e o desfecho.

A negociação, considerada a mais complexa de sua gestão na Parmalat, foi um marco. "Foi tudo pensado, uma estratégia armada direitinho, elaborada para vir ao Palmeiras sem problemas. Mas depois disso, o São Paulo entrou na Fifa. O seu João Havelange (presidente da entidade) me chamou para uma reunião. Marcamos uma reunião de 1h e ficamos 4h, 5h conversando, ele também tinha vindo do esporte olímpico, era nadador e eu do vôlei. No fim, falou que estava bacana, mas teria que dar uma multa (risos). Foi estrategicamente bem-sucedido, mas tem que pagar uma multa", explicou Brunoro.

"Era nosso sonho ter o Cafu, então a gente pagou com o maior prazer, mesmo. Era uma situação bem legal para a gente, a multa não foi barata, mas fazia parte do contexto de ter um jogador do nível do Cafu", concluiu o ex-dirigente. A passagem de Cafu pelo Palmeiras , entre 1995 e 1997, registrou 102 jogos e 16 gols, culminando na conquista do Campeonato Paulista de 1996 antes de sua transferência para a Roma, na Itália. A ousadia estratégica do Palmeiras em 1995 permanece como um testemunho da astúcia e da determinação em garantir um dos maiores talentos do futebol brasileiro para suas fileiras.

Para facilitar a compreensão da trajetória de Cafu nesse período crucial, observe a tabela abaixo:

Etapa da Carreira Clube Período Observações
Início de Carreira São Paulo 1989-1994 Bicampeão da Libertadores e do Mundial
Europa Zaragoza Jan-Jul 1995 Transferência inicial do São Paulo
Retorno ao Brasil Juventude Jul 1995 Passagem breve de 20 dias, 2 jogos
Consolidação Palmeiras 1995-1997 102 jogos, 16 gols, Campeão Paulista 1996

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Anderson

Anderson

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Comentado em 11/10/2025 12:30 Bruno e Parmalat brabos demais, manobraram geral pra trazer o Cafu e montar esse timaço!
Ricardo

Ricardo

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Comentado em 11/10/2025 10:20 Cafu no Verdão foi jogada de mestre, só sucesso!
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