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Abel Ferreira e a Família: O Fator Decisivo na Continuidade no Palmeiras
Por Redação FutVerdão em 22/06/2025 12:41
O futuro de Abel Ferreira à frente do Palmeiras, cujo contrato se encerra em dezembro, transcende as análises táticas e os resultados em campo. A permanência do aclamado técnico português no comando alviverde parece intrinsecamente ligada a um pilar fundamental: sua família. Em uma recente e reveladora entrevista, o treinador não conteve a emoção ao abordar o papel de sua esposa e filhas em sua vida e, consequentemente, em suas escolhas profissionais, indicando que a decisão sobre seu próximo passo será um consenso familiar.
A presença de sua família em solo brasileiro, já plenamente adaptada à vida em São Paulo, tornou-se um fator decisivo. A presidente Leila Pereira, ciente da importância desse elo, já iniciou as conversas para estender o vínculo de Abel até o final de 2027. Contudo, a escolha final não será solitária, mas sim um reflexo do que ele define como "nós", sublinhando uma mudança de perspectiva em sua carreira.
Este novo paradigma contrasta com um passado onde a ambição profissional por vezes suplantou a proximidade familiar. A transição de Abel de um treinador focado apenas em sua ascensão para um líder que prioriza o bem-estar coletivo de sua casa é uma narrativa de amadurecimento e autoconhecimento.
O Alicerce Familiar e o Futuro no Verdão
Abel Ferreira, com a voz embargada pela emoção, compartilhou a profundidade de seus sentimentos. "Família para mim é tudo. E eu em determinado momento da minha vida, enquanto treinador, fui muito egoísta. Porque eu só pensei em mim e não pensava neles. Eu quero ser treinador, eu quero ganhar títulos, porque eu nunca tinha ganho um título grande como jogador", revelou, com a sinceridade que lhe é peculiar.
Ele prosseguiu, descrevendo uma obsessão inicial pela glória: "Eu achava que se ganhasse um título ia ser feliz a vida toda. Então pus de lado um pouquinho o acompanhar as minhas filhas e a minha família. Deixei-os em Portugal e fui para a Grécia. Estava completamente obcecado pela parte do treino, do treinador. Dedicar todo o meu tempo, porque há um preço que se paga para chegar. Só que na altura eu não sabia qual era." A confissão de um homem que, mesmo no auge de sua carreira, reconhece as lacunas deixadas por escolhas passadas.
O peso dessa percepção manifestou-se em lágrimas, ao completar: "Quando o pai ganha, é dos outros, quando perde é deles (família)." Essa frase encapsula a solidão inerente à alta performance e a importância do apoio incondicional que apenas o lar pode oferecer.
A Jornada Pessoal de um Vencedor e o Preço da Glória
A trajetória de Abel Ferreira no comando técnico teve início no Braga, em Portugal, antes de aceitar o desafio no Paok, na Grécia, em 2019. Durante esses primeiros anos, sua esposa, Ana, e suas filhas, Inês e Mariana, não o acompanharam. Essa dinâmica se repetiu quando ele desembarcou no Brasil para assumir o Palmeiras em 2020, em um país notório pela volatilidade no cargo de treinador.
Foi apenas após quase dois anos de trabalho árduo e sucessos notáveis no Brasil que Abel se sentiu seguro para concretizar a mudança da família. Desde então, sua esposa e filhas o acompanham, inclusive em compromissos internacionais, como a recente Copa do Mundo de Clubes, nos Estados Unidos. A presença delas transformou a experiência de Abel, trazendo um equilíbrio que antes lhe faltava.
O treinador detalhou o impacto dessa transição: "Quando saio da Grécia e venho para o Brasil, mesmo contra a opinião deles, em busca desse título, e nós ganhamos a Copa (do Brasil) e ganhamos a Libertadores. E vocês lembram-se muito bem aquilo que eu disse: sou melhor treinador, mas sou pior pai, pior marido, pior filho e nos momentos em que tu estás sozinho, tu começas a perguntar a ti qual é o teu sentido da vida."
A Visão de Abel sobre o Futebol Brasileiro e o Cenário Global
A presença da família em São Paulo não é apenas um conforto pessoal, mas um fator que solidifica sua raiz no cenário do futebol brasileiro. Abel, com sua visão aguçada, oferece uma perspectiva única sobre o esporte no Brasil, contrastando-o com o futebol europeu.
Em suas palavras, "Eu, como europeu, quando ligava, não gostava de ver jogos no Brasil. O futebol brasileiro é como ver uma corrida de Fórmula 1 na chuva. Tem carros que podem dar 350 km/h, mas não podem passar de 200 km/h." Ele descreve um cenário onde o talento individual é abundante, mas as condições estruturais e o calendário intenso limitam o potencial de desempenho coletivo.
O treinador prossegue em sua analogia: "Brasil não é um país, é um continente. Tem um calendário com jogos de dois em dois dias, ver duas equipes cansadas, o ritmo é mais lento. O gramado não ajuda, ainda mais lento é. Tecnicamente, para mim, o brasileiro é o melhor do mundo. Mas temos que criar as condições." Sua análise, vinda de um estrangeiro que compreende profundamente a realidade local, é um elogio ao talento inato dos jogadores brasileiros, apesar dos desafios impostos pelo ambiente.
O Próximo Capítulo: Reflexão e Confiança no Palestra
A decisão sobre o futuro de Abel Ferreira, que se encontra em conversas para renovar com o Palmeiras , é complexa e multifacetada. O técnico reiterou que não se trata mais de uma escolha individual, mas sim de um consenso familiar. "Já pensei muito em mim mesmo e agora chegou o tempo não de pensar em mim, de pensar em nós. O que é melhor para nós? E depois a gente, juntos, resolve. O maior título que eu ganhei aqui foi conseguir ter a minha família três anos comigo a assistir às derrotas, às vitórias, porque quando tu perde, eles vão estar sempre lá em casa para ti", ponderou, com a clareza de quem encontrou seu verdadeiro norte.
Questionado sobre uma resolução iminente, o treinador adotou uma postura pragmática: "aqui e agora". No entanto, nos bastidores do clube, a confiança na permanência de Abel é palpável. A expectativa é que as negociações sejam retomadas após o desfecho da Copa do Mundo de Clubes, torneio em que o Palmeiras busca a classificação para as oitavas de final, mantendo um desempenho invicto.
A trajetória de Abel Ferreira no Palmeiras não é apenas sobre títulos e estratégias, mas sobre a evolução de um homem que aprendeu a equilibrar a paixão pela profissão com a prioridade inegociável da família. Seu legado no clube, seja ele qual for, estará para sempre entrelaçado com a história de uma família que, finalmente unida, assiste aos seus triunfos e oferece conforto em seus reveses.
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