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Abel Ferreira e a Paciência: Desenvolvimento de Jogadores no Palmeiras

Por Redação FutVerdão em 04/05/2025 19:31

Após a recente vitória do Palmeiras sobre o Vasco, que viu Vitor Roque finalmente balançar as redes pela primeira vez com a camisa alviverde, o técnico Abel Ferreira utilizou a coletiva de imprensa para ir além da análise tática. O comandante português proferiu um extenso discurso centrado na virtude da paciência e no processo de maturação dos atletas, citando exemplos concretos para ilustrar sua filosofia.

O Valor Inestimável de Dudu

Em sua explanação, Ferreira fez questão de ressaltar a importância de jogadores experientes e a forma como o clube lida com seus ídolos. A situação de Dudu, mesmo fora dos gramados por lesão, serviu como pano de fundo para destacar a gestão de carreira e o reconhecimento do Palmeiras .

A Consistência Subestimada de Veiga

Um ponto de destaque na argumentação do treinador foi a defesa enfática de Raphael Veiga. Considerado por Abel um dos mais regulares do futebol brasileiro nos últimos anos, o meia teve sua trajetória revisitada, desde as dificuldades iniciais até a consolidação. O português sublinhou que, mesmo em momentos no banco, a contribuição de Veiga transcende as estatísticas visíveis.

?Talvez nos últimos quatro anos, tirando o ano passado, tenha sido o jogador mais regular, se não um dos melhores do futebol brasileiro dos últimos anos. Basta ver os números dele. Só que o futebol brasileiro não dá tréguas a ninguém. São oito anos no Palmeiras . No início foi duro para ele, vi gente queimando camisa dele. No ano seguinte, chegou a ir a seleção. Não há problema ficar no banco e quando jogar voltar a ajudar. Fazer o que ele fez nos últimos quatro anos, me diga um jogador que tenha conseguido no Brasil um rendimento e performance, gols e assistências, como ele. Não tem. Desafio.?

Abel ainda complementou, valorizando o papel de liderança discreta de Veiga:

?Talvez essa parada tenha sido boa para ele. Imagina a minha sorte de ter o Veiga no banco. Ele ajuda de muitas maneiras, é um capitão invisível. Talvez seja dos jogadores que mais ajuda a entender o que é o Palmeiras , a torcida, a exigência. Ajuda os mais jovens, integra e adaptação dos que chegam. Eu valorizo muito isso. Nunca o deixamos sair mesmo com propostas e mesmo ele dizendo: 'mas eu estou no banco'. Mesmo estando no banco, o clube reconhece esse trabalho invisível. Não preciso nem falar do jogador. Ninguém é obrigado a estar sempre nota 10. Às vezes temos que nos permitir, e é permitido passar momentos em que as coisas não estão saindo e nós como comissão vamos ajuda-lo para que volte àquilo que sempre foi e vai nos ajudar.?

O Potencial de Estêvão e a Formação Alviverde

Questionado sobre o futuro de Estêvão, o treinador optou por não inflar as expectativas no momento, mas reconheceu o talento do jovem. Ele viu a eventual saída do atleta como um reconhecimento do trabalho de base do clube, prometendo, em tom bem-humorado, montar um "time ideal" com os jogadores formados e negociados pelo Palmeiras no futuro.

?Não quero pensar nisso. Imaginem com a pista top, do Camp Nou, aquele tapete. Se todos tiverem um pouco de paciência. O treinador para onde ele for, a equipe... Não vou continuar para não inchar o ego dele. Não quero pensar nisso. Quando chegar momento dele ir embora, é um prêmio para todos nós, para a formação do Palmeiras . Não é o primeiro, nem vai ser o útil. Prometo que no final, vou fazer a minha seleção, no dia que for embora. Dos jogadores que ajudamos a vender. Ver se consigo fazer um time só com esses jogadores. Quando chegar a esse problema, vou resolvê-lo.?

A Metáfora do Gramado e o Tempo de Crescimento

Para ilustrar a necessidade de tempo e cuidado no desenvolvimento, Abel utilizou uma metáfora inusitada: a reforma do gramado do estádio. Comparando o estado atual do campo a uma "pista cheia de buracos" que impede o desempenho máximo, ele detalhou o processo lento e gradual da troca da grama no CT, desde a remoção e preparação do solo até o crescimento e fortalecimento das novas mudas. Este processo, segundo ele, espelha a jornada de amadurecimento de qualquer jogador, especialmente os mais novos.

?Agora estamos a trocar o gramado. Falando nisso, este estádio é belíssimo, mas isso é uma pista cheia de buracos. É difícil de um carro aqui trabalhar nas curvas ou atingir a velocidade máxima. Estamos trocando o gramado no CT e tudo tem um processo. Temos que remover a grama toda, temos que colocar areia, esperar, colocar as sementes, esperar para regar. Ela começa a crescer, depois é preciso cortar e ter paciência até ela engrossar, ficar forte e depois poderemos pisar em cima à vontade porque ela não vai morrer. Isso acontece com todos os jogadores, sobretudo os mais jovens.?

O Imediatismo Global e a Margem para o Erro

Abel expandiu sua reflexão para um problema que considera universal: o imediatismo. A cultura de "tudo para ontem", exemplificada pela preferência por vídeos curtos e pela falta de disposição para processos longos, colide diretamente com a realidade do desenvolvimento humano e esportivo, que exige tempo para maturidade.

?Imediatismo não é um dos problemas do futebol brasileiro, é do mundo. Hoje queremos tudo para ontem. Você consegue ver vídeos de cinco minutos? Os vídeos são feitos de 30 segundos agora. Quando eu falo paciência, não é só para torcedores do Palmeiras . É geral. Vivemos um momento onde há pouco paciência. Por isso os vídeos curtos. Ninguém está disposto a estar 30 minutos. O problema é que o processo de crescimento de um jogador, de um homem, de um bebê, tem tempo. Maturidade é preciso tempo. Não é só no futebol brasileiro.?

O técnico criticou a pouca margem para o erro permitida hoje, mesmo para atletas de ponta. Ele citou exemplos de grandes nomes que também falharam, reforçando que errar faz parte do processo e que a autocobrança excessiva pode ser o pior sabotador.

?Na Inglaterra a média chegou a ser de oito anos, mas agora é raríssimo. Temos o Guardiola, o Klopp que nem ele próprio aguentou. Está assim. Nós não somos perfeitos. Acertamos e erramos. Hoje nos permitimos pouca margem para errar. Temos que permitir isso aos jogadores. No treino, não querem saber: jogam, falham e pronto. No jogo, não se permitem. López falhou o gol agora. Qual é o problema? Neymar nunca errou? Ronaldo nunca falhou? Falham. Temos que nos permitir para não sermos nós próprios os primeiros sabotadores de nós mesmos.?

O Papel do Treinador e a Paciência no Processo

Retornando ao tema central, Abel definiu o papel do técnico como fundamental no auxílio à evolução dos jogadores, oferecendo suporte e "carinho" mesmo nos momentos de dificuldade. Ele contrastou a impaciência de alguns torcedores com a postura do Palmeiras e de sua comissão técnica, que acreditam firmemente no processo de desenvolvimento a longo prazo.

?Para falar do Vitor Roque , tenho que falar do Giay. Uma das funções do treinador é ajudar o jogador a evoluir. Mesmo em momentos difíceis em sua travessia, o treinador tem que estar lá para ajudar, para deixá-los de fora, mas ao mesmo tempo para lhes dar carinho. E se é verdade que muitos torcedores amam o Palmeiras , outros não têm paciência nenhuma. Quero dizer que uma das coisas que esse clube tem e este treinador adora neste clube é paciência. Nós acreditamos no processo?

Ele usou o exemplo de Luis Guilherme, que também precisou de tempo e apoio para se firmar, e mais enfaticamente o de Giay, que, após críticas, hoje demonstra seu valor em campo. A crítica implícita é direcionada àqueles que, baseados no desempenho imediato, sugerem descartar jogadores ou até mesmo o próprio treinador.

?Vitor Roque tem pela frente ainda dez, 15 anos, e ainda vai nos ajudar muito. Entendo a cobrança de uma parte, então é preciso que ele entenda isso. O clube acredita muito nele. É preciso ter paciência, como foi com o Giay. Vocês estão vendo o Giay. Se faço o que boa parte da torcida manda, nós todas as semanas temos que mandar 20 jogadores embora e às vezes o treinador também. Calma. Hoje em dia não temos muito, mas no Palmeiras temos?

Vitor Roque: O Gol como Símbolo do Processo

A quebra do jejum de Vitor Roque foi, para Abel, um alívio não apenas para o jogador, mas também uma validação do trabalho. O gol, celebrado efusivamente pelo grupo, foi visto como um reconhecimento do esforço coletivo e individual. O treinador enfatizou que, apesar do investimento feito em Vitor Roque , a expectativa deve ser pautada pela realidade de que ele é um jovem em desenvolvimento, humilde e trabalhador, que deu "um passo atrás para no futuro dar três passos à frente".

?Quando você prepara e o gol não vem, pode criar uma ansiedade no jogador jovem. Continuamos com o processo. Ficamos felizes por ele. Ajudou o Palmeiras em um jogo que na primeira parte faltou mais dinâmica e primor técnico, mas sinceramente não é para dar uma justificativa, mas com uma pista dessas, a corrida não vai ser muito dinâmica. No final, foi uma vitória boa, com uma estratégia não muito diferente do último jogo. Nosso adversário mudou e não estávamos esperando que eles viessem em um 4-4-2 losango, mas nos adaptamos rapidamente. A vitória foi justa.?

O discurso de Abel Ferreira, mais uma vez, serviu como uma aula sobre gestão de pessoas e a complexidade do futebol para além das quatro linhas. Em um ambiente frequentemente dominado pela urgência e pela falta de memória, o técnico reforça a importância de olhar para o longo prazo, confiar no trabalho diário e, acima de tudo, ter paciência para colher os frutos do desenvolvimento.

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Comentado em 04/05/2025 23:50 Giay e Vitor Roque vão calar a boca da torcida. Tempo é tudo!
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Comentado em 04/05/2025 21:40 A paciência do Abel é o caminho certo! Vitor Roque vai brilhar, calma galera!
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