Copa Rio: FIFA Reconhece Fluminense e Palmeiras como Campeões Mundiais? Entenda o Documento Oficial

O fervoroso debate em torno do reconhecimento de títulos históricos no futebol mundial ganhou um novo capítulo com a recente divulgação de um relatório pela Federação Internacional de Futebol (FIFA). Na última terça-feira, 17 de outubro, a entidade apresentou um documento referente à Copa do Mundo de Clubes, que, ao listar os torneios entre diferentes confederações, incluiu a Copa Rio de 1951 e 1952 em uma categoria denominada "Copa Inter-Confederações". Essa menção gerou imediata especulação, especialmente no Brasil, sobre um possível reconhecimento dos títulos de Fluminense e Palmeiras como equivalentes a campeonatos mundiais. Contudo, uma análise mais detida da postura da FIFA e do próprio documento revela nuances cruciais que merecem ser compreendidas.

A Classificação da FIFA e o Verdadeiro Alcance

O relatório da FIFA, ao agrupar a Copa Rio, a Copa Intercontinental e o Mundial de Clubes da FIFA sob a mesma designação de "Copa Inter-Confederações", causou uma impressão inicial de equiparação. O Flamengo, por exemplo, surge com um título dessa natureza, referente à Copa Intercontinental de 1981, enquanto o Real Madrid acumula nove. No entanto, a interpretação de que essa categorização implica um reconhecimento formal da Copa Rio como Mundial é, segundo apurações, equivocada.

A entidade máxima do futebol adota uma abordagem abrangente ao classificar todos os torneios que envolveram clubes de diferentes confederações. Um exemplo elucidativo é a inclusão do Wydad Casablanca, que conquistou o Campeonato Afro-Asiático de Clubes em 1993, também com um título listado nessa mesma categoria. Isso não significa que o clube marroquino seja considerado campeão mundial pela FIFA. A padronização terminológica do relatório visa apenas organizar competições de escopo intercontinental, sem alterar o status oficial de cada uma.

A posição da FIFA, estabelecida em 2017, permanece inalterada: apenas os clubes vencedores da Copa Intercontinental (disputada entre 1960 e 2004) e do Mundial de Clubes da FIFA são oficialmente tratados como Campeões do Mundo. As demais competições, embora históricas e de grande relevância à sua época, não se enquadram nessa chancela.

A Gênese da Copa Rio e a Luta pelo Reconhecimento

A Copa Rio, idealizada na década de 1950, emergiu como uma iniciativa pioneira para coroar o "campeão mundial de clubes" em um formato que remetia à Copa do Mundo de seleções. Com apenas duas edições, em 1951 e 1952, o torneio foi um marco, especialmente em um período anterior à criação de competições continentais como a Conmebol Libertadores ou a Champions League.

O nome ?Copa Rio? fazia alusão ao patrocínio e suporte logístico da Prefeitura do Rio de Janeiro, que viabilizou a vinda de delegações europeias, muitas delas por via marítima. O Palmeiras , campeão da edição de 1951, foi o precursor na batalha pelo reconhecimento da competição. Naquele ano, o Brasil foi representado pelo Palmeiras (campeão paulista) e Vasco (campeão carioca), com a participação de clubes como Juventus (ITA), Nice (FRA), Áustria Viena (AUT), Nacional (URU), Estrela Vermelha (antiga Iugoslávia) e Sporting (POR), substituindo Milan e Barcelona que não puderam participar.

Em 1952, o Fluminense sagrou-se campeão, derrotando o Corinthians na final. A edição contou com a presença de campeões e vices nacionais da Europa e América do Sul. Um jogo memorável para o Tricolor foi a vitória sobre o Peñarol, equipe que servia de base para a seleção uruguaia que havia conquistado a Copa do Mundo de 1950 no Maracanã.

Os Argumentos e a Persistência dos Clubes

Dirigentes do Fluminense, durante o Mundial de Clubes de 2023, buscaram uma audiência com a FIFA para pleitear o reconhecimento de sua conquista de 1952 como título mundial. Até o momento, a entidade não emitiu um parecer oficial sobre o pedido.

Os argumentos apresentados, com o respaldo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), são robustos. Destacam-se o fato de a Copa Rio ter recebido a chancela de figuras proeminentes da época, como Jules Rimet, Stanley Rous e Ottorino Barassi ? então dirigentes máximos do futebol mundial ? que a consideraram um "torneio mundial da época" devido a seu formato e alcance. A ampla cobertura da imprensa nacional e internacional do período, que frequentemente se referia à Copa Rio como um campeonato mundial de clubes, também é um ponto forte na argumentação dos clubes.

Apesar do peso histórico e da relevância da Copa Rio para o desenvolvimento do futebol internacional, a FIFA mantém sua linha de corte temporal e de formato, o que gera um impasse contínuo entre a memória afetiva e histórica dos clubes brasileiros e as diretrizes burocráticas da federação. O relatório recente, embora tenha reacendido a chama da esperança, serve mais como um lembrete da complexidade em se reavaliar o passado sob as lentes do presente.

Participantes da Copa Rio: Um Olhar Detalhado

Para contextualizar a dimensão internacional da Copa Rio, é fundamental detalhar os clubes que participaram de suas edições, evidenciando o caráter verdadeiramente global do torneio para a época.