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Crespo Revela: Palmeiras e Flamengo em Nível Inatingível para o São Paulo?
Por Redação FutVerdão em 06/11/2025 01:32
Após um empate em 2 a 2 com o Flamengo, o técnico Hernán Crespo, à frente do São Paulo, ofereceu uma perspectiva franca sobre o atual panorama do futebol sul-americano. Em entrevista coletiva, o treinador argentino não hesitou em afirmar que o Tricolor não se encontra na mesma "dimensão" competitiva de Palmeiras e do próprio Rubro-Negro.
A avaliação de Crespo sublinha uma verdade incômoda para muitos torcedores: a diferença de investimento e a construção de projetos a longo prazo. Ele destacou que o caminho trilhado por Abel Ferreira no Palmeiras e a consistência do Flamengo são frutos de um trabalho e aportes financeiros que o São Paulo, neste momento, não consegue igualar. A busca por um atalho para essa elite, segundo ele, é inviável, exigindo paciência e foco nas metas alcançáveis.
Apesar da rica história do clube, o presente impõe uma visão pragmática. A comparação histórica, embora favorável ao São Paulo, não reflete a conjuntura atual, onde a disparidade se acentua. A meta, portanto, é trabalhar com humildade para encurtar essa distância, reconhecendo o patamar elevado de seus adversários diretos.
A Realidade Financeira e o Desafio do São Paulo Diante de Palmeiras e Flamengo
A retórica de Crespo não se limita a uma mera observação; ela é um chamado à realidade. Para o treinador, a percepção de que o São Paulo deveria disputar o topo com Palmeiras e Flamengo ignora anos de investimento e construção de elencos robustos por parte dos rivais. Essa diferença, que ele classifica como "outra dimensão", impede uma comparação diária de igual para igual no cenário sul-americano.
"Quando falei, quatro anos atrás, ganhar só o Paulistão é algo muito pequeno para o São Paulo. Sabem quantas vezes o São Paulo ganhou o Paulistão nos últimos vinte anos? Sabem quantas? Uma. É a realidade. Pés no chão, entender a situação. É assim. Vamos lutar? Sim, mas estamos falando, neste momento, de Palmeiras e Flamengo em outra dimensão na América do Sul. Não podemos, neste momento, nos comparar todo dia. Na história? Sim, ufa! Mas a realidade, hoje, é outra. É ter calma, humildade e trabalhar para diminuir esse 'gap' o mais rápido possível Hernán Crespo"
A honestidade do técnico é um bálsamo em meio a expectativas muitas vezes infladas. O São Paulo, de acordo com Crespo, precisa lutar por aquilo que está ao seu alcance, compreendendo as limitações e a necessidade de um processo contínuo de evolução para se aproximar da elite consolidada por Palmeiras e Flamengo.
Análise Tática: O Empate Contra o Flamengo e a Estratégia de Jogo
A partida contra o Flamengo na Vila Belmiro, que terminou em 2 a 2, serviu como um microcosmo da tese de Crespo. O Tricolor saiu na frente com Luciano logo aos três minutos, mas viu o Rubro-Negro igualar o placar cinco minutos depois e virar o jogo na etapa complementar. A virada de roteiro ocorreu na reta final, quando a expulsão de Gonzalo Plata, após uma disputa de bola com Arboleda, alterou completamente o cenário.
Com um jogador a mais, o São Paulo passou a dominar as ações e, aos 35 minutos, Ferreira conseguiu o gol de empate. A capacidade de reação diante de um adversário de alto nível foi um ponto positivo, mas o sabor de poder ter virado o jogo deixou uma ponta de lamento. No entanto, a sensação de competir e arrancar um empate nessas condições é valorizada pelo treinador.
"Não é fácil jogar com o Flamengo. Tem muita qualidade. Acho que o empate foi bom, mas o sabor é de uma lástima, pois, no final, a gente acreditava que podia conseguir a virada. Mas acabar um jogo assim, com esta sensação, é bem legal, ainda mais com o momento do Flamengo"
A avaliação do trabalho de Crespo passa pela construção de uma identidade e ideia de jogo. Ele exemplificou a flexibilidade tática ao escalar Ferreira em vez de um lateral, uma decisão que só foi possível pela solidez da base construída nos meses anteriores. Essa adaptabilidade, segundo o técnico, permite arriscar e buscar soluções diferentes em campo, com a equipe ciente de como atuar.
Filosofia de Trabalho: Identidade, Base e a Gestão de Elenco
A identidade de uma equipe, para Crespo, transcende a formação tática, seja ela com três ou quatro zagueiros. Ele detalhou a importância de entender os papéis dos jogadores em campo, citando exemplos como Carrascal, Plata e Lino, e como suas posições impactam a estratégia. A capacidade de um jogador como Ferreira de defender e atacar simultaneamente só é viável quando a identidade do time é robusta, mas isso, ele enfatiza, demanda tempo e trabalho contínuo.
A utilização da base é outro pilar da filosofia de Crespo. Ele defende a presença de jovens atletas no banco de reservas que realmente possam ser acionados, priorizando o tempo de jogo para o desenvolvimento. A recuperação de Maik, por exemplo, veio através da prática em campo. O técnico expressa admiração por Cotia, mas ressalta que a escalação de um jovem não deve ser apenas por sua origem, mas pela real capacidade de contribuir.
Apesar do desejo de dar oportunidades a talentos como Negrucci, Crespo reconhece as limitações de idade e espaço. A adaptação, inclusive, se estende à ausência do Morumbis. O treinador é categórico ao afirmar que a equipe deve superar a preferência de jogar em seu estádio e se ajustar a qualquer campo, encarando a vida como um processo de constante adaptação.
Adaptabilidade e Confiança: A Evolução do São Paulo Sob o Comando de Crespo
A trajetória recente do São Paulo, sob o comando de Crespo, ilustra uma notável transformação. O técnico relembra que, em sua chegada, o cenário era de preocupação com o rebaixamento. Hoje, o discurso mudou para a luta por uma vaga na pré-Libertadores, um indicativo claro do progresso. Essa construção, ele enfatiza, é resultado da confiança nos atletas e na qualidade do elenco.
Crespo critica a volatilidade do ambiente futebolístico, onde um ou dois resultados negativos podem levar a pedidos de mudanças radicais ou à busca por "soluções" imediatas na base. Para ele, a construção de uma identidade e segurança exige paciência e aceitação das oscilações de desempenho dos atletas. É fundamental acompanhar, dar suporte e carinho, permitindo que os jogadores errem sem a pressão de serem imediatamente descartados.
"Somos as mesmas pessoas, os mesmos que estamos lutando. Mas fico muito feliz com o presente do São Paulo. Chegamos aqui e falava-se em rebaixamento, hoje fala-se em lutar para chegar à pré-Libertadores. Muito legal, muito legal. A construção foi muito grande. Tem que confiar nos atletas, porque eles têm qualidade. Tem que ter confiança. Todos os dias se fala, aqui, que se não dá certo um jogo, outros têm que jogar. E se não der certo dois seguidos, aí tem que chegar os de Cotia, porque são a solução... Não, gente! Não é assim. Tem que construir uma identidade, uma segurança. E nas próprias características, aceitar que um atleta pode errar, que pode passar por um momento ruim. Tem que acompanhar, dar carinho, não deixar ele se preocupar por poder errar. A vida continua. Tem que ter equilíbrio emocional. A gente não fala do torcedor, de ninguém. Só fala da gente."
A mensagem final de Crespo é um apelo ao equilíbrio emocional e à coesão interna. O foco deve estar no trabalho do grupo, na construção de uma mentalidade resiliente e na confiança mútua, sem se deixar levar pelas pressões externas ou pelas rápidas mudanças de humor do futebol. O São Paulo, sob sua batuta, busca solidificar um projeto que, embora reconheça a superioridade atual de Palmeiras e Flamengo, almeja diminuir essa "dimensão" com um trabalho sério e consistente.
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