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Estêvão: A Trajetória do Fenômeno do Palmeiras ao Chelsea
Por Redação FutVerdão em 02/06/2025 11:12
A iminente partida de Estêvão do Palmeiras para o Chelsea, após a Copa do Mundo de Clubes, não é apenas mais uma transferência no cenário do futebol brasileiro. É o epílogo de uma fase, marcando a despedida de um talento que, aos 18 anos, já figura como a negociação mais vultosa na história do esporte nacional. Este movimento não é fortuito; ele coroa uma trajetória pavimentada por um talento inegável e um desenvolvimento meticuloso, cujas raízes remontam a uma infância em Belo Horizonte, onde sua habilidade já desafiava as convenções do esporte.
O Gênese de um Talento Incomum
Em 2016, a memória de Thiago Neves, então professor de futsal no Colégio Batista, em Minas Gerais, foi marcada por um diálogo premonitório com sua esposa. Na véspera da estreia da Copa Mercantil do Brasil, um dia após a performance estelar de Lionel Messi na semifinal da Copa América, Thiago proferiu uma declaração que, à época, soava como um exagero poético:
"Amanhã você vai ver o novo Messi."
A descrença foi a resposta imediata:
"Você está exagerando, é puxa saco do menino."
Contudo, o que se desenrolou no dia seguinte transcendeu as expectativas. A Copa Mercantil, disputada em quadras abertas, atraía olhares curiosos de transeuntes, que paravam suas atividades para testemunhar o espetáculo. Naquele dia, o Colégio Batista impôs uma vitória avassaladora de 13 a 0 sobre o Santo Antônio. Estêvão , então com apenas nove anos, foi o autor de oito dos treze gols. A reação da esposa de Thiago , após o jogo, foi um reconhecimento tácito do prognóstico inicial:
"é... realmente."
Apesar da comparação inicial com o craque argentino, Estêvão , ainda jovem, recusava o apelido de "Messinho". Sua entrada no Colégio Batista, aos oito anos, foi um desdobramento da política de incentivo a atletas da instituição, intermediada por seus empresários enquanto ele já integrava a base do Cruzeiro. Desde os primeiros treinos, sua capacidade era evidente.
A Percepção dos Mentores e Colegas
Daniel Simões, coordenador da Escola Batista de Esportes, recorda a cena inicial:
"O professor dele chega para mim e diz: 'Daniel, esse menino tem que vir, ele é fora do normal'."
A confirmação veio rapidamente:
"Eu vi cinco minutos do treino e falei assim: 'Thiago, nunca vi nada igual'."
A condução de bola, a intensidade e a habilidade nos dribles de uma criança de oito anos eram aspectos que assombravam os instrutores. Entre os colegas de quadra, embora seu talento fosse inquestionável, Estêvão precisou de tempo para conquistar a admiração plena. Luis Fernando, ex-aluno e presente no primeiro treino de Estêvão , recorda a transformação na percepção:
"No começo não achei que ele era tão craque assim, mas nos jogos era fora do normal, pegava a bola e driblava uns quatro caras. Jogava duas categorias acima e fazia o que queria em quadra."
A preocupação dos adversários era palpável, com instruções claras para tentar contê-lo:
"dois caras marcando Estêvão, não deixa ele chutar, fecha a perna esquerda, a direita."
Seu irmão gêmeo, Guilherme Henrique, complementa a observação, expressando a surpresa diante da magnitude que a carreira de Estêvão alcançou:
"Ele sempre jogou muita bola, mas eu nunca imaginei que estaria se tornando o que está se tornando agora."
Uma Formação de Caráter e Habilidade
Estêvão participou de seis torneios pelo Colégio Batista, conquistando o título em todas as edições, algumas inclusive antes de iniciar o ano letivo formal. Entre as competições de destaque, figuram os Jogos Escolares de Minas Gerais (2019), o Campeonato Metropolitano, os Jogos Escolares de Belo Horizonte e a Copa Mercantil do Brasil.
A proximidade entre a família do jogador e o treinador Thiago Neves, que frequentemente o acolhia em sua residência, permitiu que Thiago adotasse abordagens pedagógicas mais incisivas. Um exemplo notável era a forma como lidava com a frustração de Estêvão diante das faltas sofridas:
"Estêvão, você vai ser caçado dentro de campo e nem sempre a arbitragem vai marcar falta. Você tem que se acostumar."
Essa filosofia visava preparar o jovem para a realidade do futebol profissional, onde a marcação é implacável e a arbitragem nem sempre benevolente. Embora o menino reagisse com certa irritação, a disciplina e o respeito às decisões do técnico eram constantes.
A reputação de Estêvão na escola, conhecida por sua tradição esportiva, era tamanha que seu talento precedia sua pessoa. Professores de educação física frequentemente discorriam sobre suas habilidades, despertando a curiosidade. Rivais, por sua vez, almejavam sua retirada de campo para equilibrar as partidas. Thiago Neves, em sua análise, descreve o fenômeno:
"O que ele fazia com a bola é inexplicável. Só quem presenciou... porque hoje o futebol está muito competitivo e às vezes ele não faz o que fazia antes. Mas está colhendo os frutos. É coisa de outro mundo, isso eu nunca vi."
Paralelamente, Estêvão também atuou pelo time de futsal Esportes Elite, sob a orientação do técnico Marcos Luiz Franco. Convidado após ser observado na Copa Trivela, permaneceu na equipe dos oito aos doze anos, sendo a figura central em duas edições do Encontro Brasileiro de Futsal, em 2016 e 2017. Marcos Franco reitera a singularidade do jogador:
"Tínhamos outros atletas muito bons, mas igual ao Estêvão nunca."
Compromisso Acadêmico e Humildade
Apesar do reconhecimento precoce, Estêvão nunca demonstrou arrogância ou desinteresse pelos estudos. José Carlos, seu professor de geografia, o descreve como um aluno dedicado, com um sorriso constante e excelente desempenho escolar. A postura do jovem atleta servia de modelo:
"Eu uso o Estêvão como referência para os outros estudantes."
O professor destaca a importância de seu exemplo em um ambiente onde muitos estudantes, vislumbrando uma carreira no esporte, negligenciam a educação formal:
"É uma instituição com uma vulnerabilidade muito grande e muitas vezes estudantes colocam na mente 'vou ser jogador, isso que vou fazer da minha vida' e deixa o estudo de lado. Uso o Estêvão como referência pela postura dele: aqui na escola sou estudante, não jogador."
Estêvão frequentou o colégio mineiro até os 14 anos, antes de se mudar para São Paulo. Desde então, a instituição o celebra constantemente, como na ocasião de sua convocação para a seleção brasileira sub-17.
O Legado de um Talento em Ascensão
Enquanto o mundo se prepara para testemunhar o brilho de Estêvão no cenário global, agora se apresentando à seleção principal, o Colégio Batista já possui a certeza de ter sido um palco fundamental para o desenvolvimento de um talento excepcional. Sua passagem por ali deixou uma marca indelével, que transcende a mera contagem de gols. É a prova de que a excelência esportiva pode coexistir com a disciplina e o compromisso, forjando não apenas um atleta, mas um indivíduo de caráter. A jornada de Estêvão é um testemunho da dedicação e do potencial ilimitado de uma das mais promissoras estrelas do futebol brasileiro.
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