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Julgamento do caso Gabriela Anelli: Justiça busca responsabilização
Por Redação FutVerdão em 19/05/2025 06:11
Início do Julgamento do Caso Gabriela Anelli
Começa nesta segunda-feira, às 9h30 (de Brasília), no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, o julgamento referente à morte de Gabriela Anelli, a torcedora do Palmeiras que faleceu aos 23 anos após ser atingida por estilhaços de uma garrafa de vidro em julho de 2023. O caso, que ganhou grande repercussão, busca agora a responsabilização do acusado pelo ato que resultou na trágica perda.
Jonathan Messias Santos da Silva, torcedor do Flamengo de 35 anos, é o réu no processo. Ele permanece sob prisão preventiva em São Paulo desde agosto daquele ano, acusado de homicídio doloso com dolo eventual. Essa classificação ocorre quando o agente, mesmo prevendo a possibilidade de morte, assume o risco de produzi-la, sem necessariamente desejar o resultado fatal.
O Contexto da Tragédia no Allianz Parque
O incidente que vitimou Gabriela Anelli ocorreu nas imediações do Allianz Parque, na Rua Padre Antônio Tomás, momentos antes da partida entre Palmeiras e Flamengo, válida pelo Campeonato Brasileiro. Confrontos entre torcedores dos dois times, separados por um portão, escalaram para a troca de objetos, incluindo garrafas. Uma dessas garrafas se quebrou, e os estilhaços atingiram Gabriela na região da jugular.
A torcedora foi prontamente socorrida e levada à Santa Casa, na Vila Buarque, mas não resistiu aos ferimentos, falecendo dois dias depois, após sofrer duas paradas cardíacas.
1 de 5Gabriela Anelli, 23 anos, torcedora morta em confusão no jogo Palmeiras x Flamengo ? Foto: Arquivo pessoal
Gabriela Anelli, 23 anos, torcedora morta em confusão no jogo Palmeiras x Flamengo ? Foto: Arquivo pessoal
Investigação e Identificação do Acusado
As investigações conduzidas pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) apontaram Jonathan Messias Santos da Silva como o autor do arremesso da garrafa. As câmeras de reconhecimento facial do Allianz Parque foram cruciais para a identificação, conforme informações que constam no pedido de prisão feito pelo Ministério Público de São Paulo.
Ivalda Aleixo, delegada do DHPP responsável pelas investigações, declarou na época: "Era um cara de barba, ele entra no estádio logo depois, é identificado pelo reconhecimento facial que tem no estádio, era a mesma pessoa".
Detalhes da Perícia e a Dinâmica do Incidente
A perícia realizada no caso identificou o momento exato em que a garrafa se quebra e os estilhaços atingem Gabriela. A delegada Ivalda Aleixo detalhou: "A gente separou os ruídos de quando a garrafa bate, tem estilhaço e, em um segundo, atinge a Gabriela. Tem imagem dele pegando uma garrafa no chão. Ele se levanta, joga. Não tinha mais nenhum objeto naquela direção que fosse causar o ferimento que causou na Gabriela".
Segundo os investigadores, uma outra garrafa foi atirada por um torcedor do Palmeiras em direção aos flamenguistas, mas somente após Gabriela já ter sido atingida. O laudo necroscópico apontou que a lesão fatal causou um corte de 3cm e resultou em grave hemorragia.
2 de 5Imagens da investigação da morte de Gabriela Anelli ? Foto: Divulgação
Imagens da investigação da morte de Gabriela Anelli ? Foto: Divulgação
A Defesa Alega Inocência
O advogado de Jonathan Messias, José Victor Moraes Barros, alega que seu cliente é inocente. Jonathan é servidor público no Rio de Janeiro, atuando como diretor de uma escola municipal em Campo Grande.
Barros argumenta: "Não tem como eles comprovarem que a garrafa (que se quebrou e atingiu Gabriella) foi a do Jonathan. Ele faz o lançamento da garrafa e tudo mais, mas não foi a garrafa dele. Inclusive as testemunhas, os guardas municipais (que estavam no local) atestam que não sabem informar se foi a garrafa dele ou não".
Questionamentos Sobre a Imparcialidade do Processo
O advogado de defesa questiona a condução do processo, levantando dúvidas sobre possíveis influências externas: "Meu cliente não faz parte de nenhuma torcida organizada. Isso tudo é pra quê? Para satisfazer algo do MP? Ou uma satisfação pra sociedade paulistana, e por conta do governador e da pressão de tudo mais? Por que o processo é midiático? Por questão de guerra de torcida? É algo muito complicado botar um inocente na cadeia".
A Perspectiva da Família da Vítima
Por outro lado, os advogados da família de Gabriela Anelli defendem a solidez das investigações e confiam nos resultados apresentados. Yohann Sade, um dos advogados, afirma: "As provas falam, são muito claras, e o que a gente vai demonstrar no júri é o que está no processo. Existem perícias feitas com última tecnologia, o DHPP trabalhou muito bem. Então, temos certeza de que efetivamente a garrafa que atingiu a Gabriella foi a garrafa arremessada pelo Jonathan, réu desse caso".
3 de 5Imagens da investigação da morte de Gabriela Anelli ? Foto: Divulgação
Imagens da investigação da morte de Gabriela Anelli ? Foto: Divulgação
Dor e Busca por Justiça
Os pais de Gabriela Anelli, Dilcilene Prado Anelli e Ettore Marchiano Neto, que se mudaram para Curitiba, viajaram a São Paulo para acompanhar o julgamento. A família, palmeirense, relata que era a primeira vez que os três iriam juntos ao estádio.
A mãe, Dilcilene, recorda: "Ela foi antes com o namorado, que era da TUP. Ela não era de nenhuma torcida organizada, mas conhecia quase todo mundo, se dava bem com todos". O pai, Ettore, complementa: "Eu estacionei a moto no posto de gasolina perto do estádio e mandei mensagem pra ela. Ela respondeu que estava indo ajudar o pessoal a carregar o material da torcida. Marcamos de nos encontrar mais tarde, mas começou a demorar muito e nada de ela chegar".
Trauma e Sofrimento Profundo
Após o início do jogo, a falta de sinal no celular impediu que os pais encontrassem Gabriela no estádio. A notícia de que ela estava no hospital, ferida por estilhaços de garrafa, só chegou após a partida. Quase dois anos após a tragédia, os pais enfrentam tratamento psiquiátrico contra depressão, sofrendo crises de pânico e ansiedade.
"Não sei o que vai ser da gente. A gente não tem mais vontade de viver. No ano passado, eu tentei autoextermínio, fiquei uma semana internada, e pensava ?minha filha lutou tanto pra viver, eu não posso tirar minha vida?. Mas não existe cura pra uma dor dessa, só vai passar quando a gente se for", desabafa Dilcilene.
4 de 5Dilcilene Anelli e Ettore Marchiano, pais de Gabriela Anelli ? Foto: Renato Rossi
Dilcilene Anelli e Ettore Marchiano, pais de Gabriela Anelli ? Foto: Renato Rossi
Um Apelo por Justiça e Paz nos Estádios
Ettore expressa o desejo da família: "A gente quer que seja feita Justiça, pra que não aconteça mais com nenhum pai nenhuma mãe. Você não pode ir pra um lugar pra se divertir e enterrar a filha dois dias depois".
Dilcilene e Ettore buscam responsabilização pelo crime, mas rechaçam a vingança: "Não se paga sangue com sangue, eu sei. Eu particularmente não quero saber dele (do réu) nem da família dele. Sentimento por ele é nada, nulo, zero, só quero que ele pague pelo crime que ele cometeu. A vida da família dele também está revirada, mas ele está vivo, né. A minha filha não", conclui Ettore.
5 de 5Gabriela Anelli, à direita, em retrato na casa da avó ? Foto: Renato Rossi
Gabriela Anelli, à direita, em retrato na casa da avó ? Foto: Renato Rossi
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