Libra: Palmeiras e Flamengo polarizam debate de receitas de TV

A discussão em torno da distribuição das receitas de televisão no âmbito da Libra, o grupo de clubes que almeja a criação de uma liga de futebol, parece ter se desviado significativamente de seu propósito primordial. Analistas e participantes internos apontam uma transformação preocupante: o debate, que deveria ser coletivo, converteu-se em um embate direto entre Palmeiras e Flamengo, polarizando as negociações e distanciando-se de um consenso amplo.

Lucas Mussetti, em sua coluna no De Primeira, do Canal UOL, é um dos que evidenciam essa percepção. Ele relata que, nos bastidores da Libra, a sensação predominante entre diversos outros clubes é de que a controvérsia se consolidou como uma disputa particular entre os gigantes paulista e carioca. Tal cenário, segundo o colunista, é visto como profundamente prejudicial para a própria formação e estabilidade da liga.

Mussetti ilustra essa dinâmica com um diálogo revelador. "Eu conversei com uma fonte no Santos hoje, e talvez seja um símbolo, um sinal do que pensam também os outros clubes que estão um pouquinho fora, pelo menos dessa briga pública que escalou nos últimos dias. Essa fonte no Santos me falou: 'cara, isso não ajuda em nada'." O colunista reitera que, embora a defesa de interesses próprios por parte de Flamengo e Palmeiras seja algo natural, a situação escalou para além de um diálogo construtivo. "Não era para ser, era Palmeiras com Libra, Flamengo com Libra, mas não, virou um Palmeiras x Flamengo." Essa polarização, conforme a fonte, é "ruim pra todo mundo", dificultando a tão almejada união dos clubes.

A Percepção de Polarização na Liga

Complementando essa análise, o presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista (Bap), ofereceu uma perspectiva direta sobre a contenda em uma entrevista exclusiva a Rodrigo Mattos, do UOL. Bap não hesitou em declarar que, em sua visão, a "Libra é palmeirense", uma afirmação que encapsula a profundidade do desentendimento entre as partes.

Segundo o relato de Mattos, Bap detalhou que, durante todo o processo de formação da Libra, ele se sentiu marginalizado, inclusive em comitês destinados à integração com a Liga Forte União. Ele atribuiu essa exclusão especificamente ao Palmeiras e ao São Paulo. O dirigente rubro-negro ainda pontuou que, sempre que tentava introduzir discussões que não fossem estritamente financeiras, elas eram prontamente ignoradas. A percepção de Bap é que a liderança de Leila Pereira, presidente do Palmeiras , domina a Libra, e uma boa relação com ela dependeria de uma concordância irrestrita com suas posições, sob pena de deterioração.

Acusações e Interesses: O Lado do Flamengo

A personalização da disputa foi igualmente lamentada pelo comentarista Paulo Vinícius Coelho (PVC). Ele expressou profunda insatisfação com a maneira como o debate sobre o futuro do futebol brasileiro se transformou em uma rivalidade entre dirigentes. "O que eu lamento profundamente é que isso tenha virado uma briga Bap x Leila ou Flamengo x Palmeiras , em vez de ser uma discussão sobre o futuro do futebol brasileiro."

PVC estende sua crítica a todos os envolvidos, desde Leila e Bap até figuras da CBF, como o presidente e o vice-presidente Flávio Zveiter, idealizador da Liga. O foco, segundo ele, tem sido excessivamente restrito e egoísta. "Agora, nós estamos pensando no micro, nós estamos pensando cada um no seu umbigo," conclui, apontando para a miopia que impede uma visão mais ampla e estratégica para o esporte nacional.

O Custo da Rivalidade Pessoal para o Futebol