Lucas Evangelista: A Voz da Experiência e o Segredo da "Reconquista" Alviverde

Enquanto os holofotes se voltam com frequência para o brilho ofensivo de Vitor Roque e Flaco López, ou para a recente incorporação de Andreas Pereira, um jogador tem consolidado sua presença no Palmeiras de forma mais discreta, porém igualmente impactante: Lucas Evangelista. O meio-campista, que chegou do Bragantino no início da temporada, assumiu a titularidade após a saída de Richard Ríos e, desde então, tem vivenciado seu ápice vestindo a camisa alviverde. Sua performance notável no triunfo por 3 a 1 sobre o River Plate, em pleno Allianz Parque, pela Conmebol Libertadores, é um testemunho irrefutável de sua ascensão.

Evangelista reflete sobre o período de adaptação, um processo natural diante das significativas mudanças no elenco. "Neste ano acabou tendo muita troca, né? Atletas que estavam há muito tempo, líderes, deixavam o ambiente bom, chamavam a responsabilidade e acabaram indo embora. Chegou muito atleta, também. Então é normal ter um tempo para conhecer a forma de trabalho do Abel, da comissão, entrosar e se sentir em casa", observou o atleta. Ele complementa que, em sua percepção, "já era esperado certo tempo para ter o entrosamento e as coisas acabarem de uma maneira mais natural".

A Liderança Discreta e a Filosofia de Abel

Em meio a este elenco em constante reconfiguração, Lucas Evangelista , aos 30 anos, emergiu como uma figura de liderança. Sua influência no vestiário é exercida através de uma comunicação serena e ponderada, sem a necessidade de elevar a voz. Ele descreve sua abordagem: "Cada um tem uma maneira de se preparar, de se concentrar para o jogo, mas eu particularmente sou muito comunicativo, um cara que gosta de estar falando, passando energia positiva, confiança para os companheiros."

O volante enfatiza a ausência de vaidade em sua postura, um traço que ressoa diretamente com a filosofia do técnico Abel Ferreira. "Não tenho o ego de ser protagonista, não tenho vaidade. Gosto muito daqui também por isso, porque desde que eu cheguei o Abel sempre diz: pega sua bolsinha do ego e da vaidade e deixa em casa. Aqui não pode ter isso", revela Evangelista, destacando a cultura de coletividade implementada no clube.

Um momento de reconhecimento visível ocorreu no último sábado, contra o Fortaleza, quando Evangelista recebeu a faixa de capitão no segundo tempo do confronto. Embora o gesto tenha sido inesperado, especialmente após a substituição de Raphael Veiga, o camisa 30 o interpreta como uma consequência lógica de seu comportamento diário. Ele explica: "Tem que estar todo mundo remando para o mesmo barco: as vitórias do Palmeiras , buscar títulos. Acaba tendo uma liderança, porque estou entre os atletas mais velhos aqui. A rapaziada mais jovem escuta a gente." A surpresa do momento foi genuína: "Ter usado a faixa de capitão eu fiquei surpreso, porque o Weverton falou para eu ir lá, achei que era pra eu entregar pra alguém", recorda com bom humor.

Foto: (Cesar Greco/Palmeiras)

A Harmonia com Andreas Pereira no Meio-Campo

A consolidação de Lucas Evangelista como titular coincidiu com a chegada de Andreas Pereira, um reforço de peso com passagens pela Premier League e pela seleção brasileira. Inicialmente percebido como um potencial concorrente direto, o ex-jogador do Fulham foi integrado ao esquema tático de Abel Ferreira de modo a permitir que ambos atuem juntos no meio-campo. Evangelista, reafirmando sua postura desprovida de vaidade, não poupa elogios ao novo companheiro.

Essa admiração mútua resultou em uma interação divertida nos bastidores. "Vou contar um fato engraçado que aconteceu na fisio. O Andreas falou assim: 'vou te pagar um jantar, porque o que você falou bem de mim nas entrevistas depois do jogo' (risos)", relata Evangelista. Ele prossegue, justificando seus elogios: "Mas não tem o que falar. Lembro no Bragantino, a gente ganhou do Flamengo no Brasileiro, e mesmo perdendo você vê que o cara é diferente, é o domínio, é o jeito de jogar."

O volante enfatiza a naturalidade de uma possível alternância de posições, dada a qualidade do colega: "Se eu, ou outro atleta ficasse no banco, o cara tem não sei quantos anos de Premier League, da seleção brasileira, é acima da média. Se isso acontecer, seria a coisa mais normal. Vim para ajudar o Palmeiras , independentemente de estar jogando ou não. Estou feliz, estamos jogando juntos e entrosando", conclui, demonstrando a sinergia que se estabelece na equipe.

O Lema de "Reconquistar" e os Desafios da Temporada

Apesar de o tema da reformulação profunda no elenco ter dominado as discussões externas ao longo da temporada, Lucas Evangelista revela que a tônica interna no Verdão é outra: "reconquistar". Ele distingue o conceito: "Eu escuto isso de reconquistar, essa parte da reconstrução é porque saíram muitos atletas, mas para a galera que está aqui há mais tempo já não é reconstrução, é reconquistar." Esta mentalidade reflete o desejo de uma era vitoriosa. "Uma era muito vitoriosa, quem está chegando tem sede de aprender o quanto antes isso e ganhar títulos", acrescenta o jogador.

O Palmeiras , sob essa ótica, segue firme em seus objetivos. Na Conmebol Libertadores, a equipe se prepara para as semifinais em outubro, onde enfrentará a LDU, do Equador. No Campeonato Brasileiro, o Alviverde ocupa a terceira posição, apresentando um aproveitamento superior ao de Flamengo e Cruzeiro, que estão à sua frente na tabela, embora com um número maior de partidas disputadas.

Evangelista enfatiza a atmosfera positiva que permeia o vestiário: "O ambiente está ficando cada vez mais saudável, consequentemente todo mundo está ficando mais leve, com confiança e o resultado vem também." Com a reta final das competições se aproximando, a mensagem de foco e dedicação é reforçada. "Está na reta final de tudo. Vou reforçar o que o Weverton nos falou: agora é o momento de renúncia, de sacrifício, de abrir mão de prazeres momentâneos para ter o resultado que a gente quer", conclui, sublinhando o compromisso do elenco com a busca pelos títulos.