Palmeiras: A Falência Tática de Abel Ferreira na Libertadores e o Futuro do Clube

A decisão da Libertadores em Lima expôs, de forma crua, a face tática do Palmeiras. O que se viu foi um festival de bolas longas e lançamentos apressados, uma insistência em jogadas diretas para o ataque. É um contraste gritante: um plantel com investimento multimilionário, com atletas de inegável calibre, mas que exibia um futebol empobrecido, carente de criatividade e muito aquém do valor investido.

Embora o ano de 2025 tenha sido pontuado por momentos de brilho, com triunfos expressivos sobre Internacional, River Plate na Argentina e Fortaleza, esse período de goleadas, embora inegavelmente de bom futebol, foi efêmero. Ele acabou por edificar uma miragem, a de que o time estava no limiar de reencarnar a lendária Academia de Futebol.

Contudo, o que se seguiu foi uma queda abrupta na performance, evidenciada por um desempenho pífio de 0,11% nos últimos seis confrontos. Essa regressão, inevitavelmente, recai sobre o comando técnico de Abel Ferreira. É inquestionável que ele, com méritos, ascendeu ao posto de maior treinador na trajetória do clube, um legado construído sobre disciplina, foco e uma competitividade inigualável.

A Contradição Tática: Elenco Estrelado, Jogo Simplificado

A paradoxal situação, entretanto, reside no fato de que a incorporação de novos talentos criativos ao longo da temporada clamava por uma renovação de conceitos: maior posse de bola, diversidade tática, uma construção de jogadas mais elaborada e paciente. O que persistiu, contudo, foi a adesão a um padrão de jogo antecipável e desvinculado do potencial qualitativo do plantel.

Os recentes reforços, em conjunto com os atletas que já compunham o elenco, detinham a capacidade de produzir muito mais neste segundo semestre. No entanto, foram visivelmente tolhidos por um esquema tático que se mostrou incompatível com suas aptidões técnicas.

Um testemunho irrefutável dessa limitação foi a substituição de Allan, efetuada imediatamente após o gol do Flamengo, um movimento que expôs a superficialidade do repertório do técnico. Abel optou por retirar de campo justamente o atleta com a capacidade de driblar, de quebrar as linhas defensivas adversárias e de criar espaços. Consequentemente, a chance de edificar jogadas com controle de bola e pelo chão cedeu espaço a um futebol aéreo, facilmente antecipável e já esperado pelo oponente.

Foto: (Hector Vivas/Getty Images)

O Enigma Allan: Quando a Inovação é Sacrificada

Nomes como Andreas Pereira, Sosa, Felipe Anderson, Maurício, Vitor Roque, somados a talentos já estabelecidos como Raphael Veiga, Piquerez, Allan e Flaco López, compõem um elenco de notável qualidade. Mas de que valem tantos atributos técnicos se a estratégia se restringe a lançamentos longos e previsíveis contra defesas adversárias que se mostram invariavelmente bem postadas?

O Palmeiras , em sua performance, esteve distante de justificar a conquista do tetracampeonato da Libertadores, mesmo com a legítima ressalva quanto à ausência da expulsão de Pulgar, uma decisão questionável ainda no primeiro tempo.

Mais preocupante ainda é a percepção de que Abel não demonstra indícios de reconhecer suas próprias falhas. A declaração, na coletiva de imprensa após a final da Libertadores, de que o time careceu de "casca" soa como um desrespeito à inteligência do palmeirense. O torcedor, contudo, não se ilude. Ele já compreendeu, por mais doloroso que seja, que a atual conjuntura não oferece mais margem para grandes avanços.

O Legado em Xeque: A Negação de Falhas e o Chamado por um Novo Rumo

Diante desse cenário, um apelo se faz à atual diretoria: é imperativo um gesto de ousadia. Um passo semelhante ao que a administração predecessora tomou em 2020, ao apostar na contratação de Abel. De fato, é chegada a hora de iniciar um novo ciclo à frente do comando técnico palmeirense, um movimento que beneficiará todas as partes envolvidas.