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SAFiel Corinthians: Ex-Presidente do Cruzeiro Desmascara Riscos para o Torcedor
Por Redação FutVerdão em 31/10/2025 05:41
A proposta de transformar o Sport Club Corinthians Paulista em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) com participação acionária dos torcedores, batizada de SAFiel, tem gerado intensos debates no cenário esportivo nacional. O projeto, recentemente entregue ao Conselho Deliberativo do clube alvinegro, já enfrenta severo escrutínio, especialmente de figuras que vivenciaram processos semelhantes.
Entre as vozes mais críticas está Sérgio Santos Rodrigues, antigo presidente do Cruzeiro, figura central na venda da SAF da Raposa ao ex-jogador Ronaldo em dezembro de 2021. Rodrigues questiona abertamente a exequibilidade do plano corintiano, apontando para uma ausência fundamental de segurança financeira para os torcedores que eventualmente se aventurarem a investir na agremiação.
A Promessa da SAFiel e o Ceticismo de Rodrigues
Na perspectiva do ex-dirigente celeste, a ideia de que o torcedor pode deter uma parcela de seu clube é, em grande parte, uma quimera, uma fantasia que pode desviar a atenção da realidade do mercado. Ele sublinha a lógica inerente ao capital: grandes investimentos são motivados pela busca por controle e decisão.
Eu acho que é um pouco irreal iludir o torcedor de que você vai ter um pedaço do seu time. Eu não vislumbro como isso pode dar certo, porque é o que o mercado colocou. Ninguém gasta dinheiro para não ser majoritário, para não tomar decisão.
Rodrigues enfatiza que, ao adquirir uma ação, o investidor popular não apenas compartilha dos êxitos, mas também assume os fracassos. O ponto nevrálgico, segundo ele, reside no potencial comprometimento do patrimônio pessoal, uma questão de alta sensibilidade para qualquer investidor.
Riscos Financeiros: O Patrimônio do Torcedor em Jogo
O advogado e ex-presidente alerta para as elevadas chances de implicações financeiras negativas ao se tornar acionista de uma instituição já sobrecarregada por dívidas, como é a situação atual do Corinthians ? e como era o Cruzeiro no momento da transição para SAF. A complexidade de um clube endividado amplifica os riscos para acionistas minoritários, especialmente aqueles sem grande poder de barganha.
Eu jamais recomendaria que alguém gastasse dinheiro, se tornasse sócio de uma empresa, se você não vai poder dar palpite nos rumos dela e ainda pode comprometer seu patrimônio. Se esse clube quebrado já tem R$ 2,5 bilhões, ele vai entrar com a cota a parte dele também?
Além das fragilidades financeiras, o ex-dirigente questiona a efetiva capacidade de influência do acionista comum. Ele indaga se o torcedor estaria disposto a "comprar sem poder dar palpite efetivo", sugerindo que muitos podem estar desinformados sobre a real extensão de sua participação nas deliberações do clube.
A Quimera da Influência Popular: O Caso FIGA do Atlético-MG
A discussão sobre a SAFiel encontra um paralelo revelador no Fundo de Investimentos do Galo (FIGA), iniciativa do Atlético-MG, que buscava capitalizar recursos junto à sua torcida qualificada. Apesar das semelhanças com a proposta corintiana, o modelo mineiro não obteve o sucesso esperado, servindo como um estudo de caso para a cautela necessária.
O próprio Atlético Mineiro seguiu um caminho onde os donos assumiram uma boa parte do investimento e criaram um fundo para vender cotas de R$ 1 milhão. Eles não chegaram nem perto de bater a meta de vendas dessas cotas. Eu acredito que a lógica é essa: independentemente do valor, quem é muito rico não vai desperdiçar dinheiro -- ninguém fica rico fazendo isso. E quem tem pouco dinheiro, para comprometer o patrimônio com algo assim, precisa entender a repercussão que essa decisão pode ter.
O FIGA, que tinha como objetivo arrecadar R$ 100 milhões, conseguiu captar apenas R$ 6,17 milhões até janeiro de 2025, um montante que representa menos de 10% da meta estabelecida. A tabela a seguir ilustra o desempenho do fundo:
| Fundo | Meta de Captação | Valor Arrecadado (até Jan/2025) | % da Meta | Intervenção |
|---|---|---|---|---|
| FIGA (Atlético-MG) | R$ 100 milhões | R$ 6,17 milhões | 6.17% | Rubens Menin (aporte de R$ 100 milhões) |
Lições de um Mercado Cético: Onde Reside a Realidade?
O insucesso na captação do FIGA demandou uma intervenção direta do acionista majoritário do Atlético-MG, Rubens Menin, que se comprometeu a injetar os R$ 100 milhões restantes até o final de 2026. Este episódio sublinha a relutância do mercado de torcedores em assumir riscos financeiros substanciais sem garantias claras de retorno ou influência.
As observações de Sérgio Santos Rodrigues e a experiência do Atlético-MG com o FIGA oferecem um panorama crítico sobre a viabilidade de modelos de SAF que dependem fortemente da participação acionária popular. A complexidade do cenário financeiro dos clubes brasileiros e a lógica implacável do mercado de investimentos sugerem que a promessa de "ter um pedaço do seu time" pode, de fato, ser uma ilusão se não vier acompanhada de uma estrutura robusta e transparente que proteja o patrimônio do torcedor.
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