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Torcedor do Palmeiras Percorre 100 Mil KM: Paixão, Leucemia e Copa do Mundo de Clubes

Por Redação FutVerdão em 14/06/2025 15:21

No cenário do futebol moderno, onde a paixão muitas vezes se confunde com o mero consumo, emergem narrativas que resgatam a essência mais pura da devoção clubística. A história de Vitor Hugo Bento Galvão, um economista de Ribeirão Preto, transcende o ordinário, configurando-se como um verdadeiro manifesto de lealdade e superação. Ao desembarcar nos Estados Unidos para acompanhar a inédita Copa do Mundo de Clubes da FIFA, Vitor não apenas realizou o sonho de ver seu Palmeiras em mais um palco global, mas também celebrou um feito monumental: a marca de 100 mil quilômetros percorridos em nome do amor pelo Alviverde.

Aos 30 anos, a presença de Vitor neste torneio não é apenas a concretização de um desejo, mas o ápice de uma relação que se forjou em circunstâncias extraordinárias, desde os primórdios de sua existência. Sua trajetória com o Palmeiras , longe de ser um hobby, é uma saga de vida, marcada por desafios e triunfos pessoais que se entrelaçam indissociavelmente com as cores do seu clube.

As Raízes da Devoção: Uma Luta Pela Vida e o Verdão Como Pilar

A conexão de Vitor com o Palmeiras não nasceu em arquibancadas, mas nos corredores de um hospital. Aos três anos de idade, um diagnóstico de leucemia impôs uma realidade dura e precoce. Curiosamente, foi nesse ambiente de fragilidade que a semente da paixão alviverde foi plantada, oferecendo um contraponto de esperança e distração à rotina de tratamentos. ?Eu descobri uma leucemia quando eu tinha três anos, comecei a fazer o tratamento em Barretos e, na época, as crianças podiam pedir presentes. Geralmente eles pediam bicicleta, vídeo game, e eu pedi uma camisa do Palmeiras , do Paulo Nunes?, relembra Vitor, com uma clareza que denota a profundidade da memória.

É notável como as primeiras recordações de sua infância estão intrinsecamente ligadas a esses dois polos: a severidade do hospital e o conforto do Palmeiras . ?As minhas primeiras lembranças da vida são relacionadas ao hospital e ao Palmeiras ?, confessa o torcedor, evidenciando como o clube se tornou um refúgio e uma fonte de força em seus momentos mais vulneráveis. Acompanhar os jogos pela televisão, mesmo internado, e as distrações proporcionadas pela equipe médica, que trazia objetos do Palmeiras , foram elementos cruciais para aliviar o peso da doença. ?Lembro que os enfermeiros e funcionários criavam muitas coisas para distração, como joguinho da memória. Lembro que traziam muitas coisas do Palmeiras para mim, tipo bonequinho, balão. Essas distrações me ajudaram como um todo a passar pelo processo de forma mais leve, que eu nem percebia como criança. Foi me ajudando a passar pelo tratamento, acredito que pela minha mãe tenha sido bom nesse contexto geral de suporte que eles davam?, detalha.

A Chama Que Cresce: De Influência Familiar a Jornadas Solitárias

A influência familiar, embora indireta, desempenhou um papel na formação dessa paixão. Seus pais, sem grande apreço pelo futebol, viram o irmão de Vitor tornar-se palmeirense por intermédio de um tio. Este, por sua vez, abraçou o clube numa provocação bem-humorada ao avô corintiano. ?Meus pais não gostam tanto de futebol, mas meu irmão virou palmeirense por conta de um tio meu. E esse tio virou palmeirense mais para criar uma birra com meu avô, que era corintiano. Meu tio fez meus primos virarem palmeirenses e meus primos fizeram meu irmão virar. E eu também virei.?

Curado da leucemia aos cinco anos, Vitor viu seu amor pelo Palmeiras crescer em uma simbiose quase orgânica com seu próprio desenvolvimento. ?O Palmeiras é muito importante pra mim, é algo que tá comigo desde sempre e vai continuar comigo pra sempre, é algo que quando eu estou mal, me levanta, me deixa feliz, quando eu tô bem às vezes me chateia, mas é um sentimento que não dá pra explicar, o Palmeiras ele é muito diferente, só quem sente isso por um time por alguma coisa consegue entender?, descreve, capturando a dimensão quase existencial de sua relação com o clube.

Sua jornada como torcedor de estádio começou em 2008, em São José do Rio Preto. Contudo, um episódio marcante em 2010 ilustra a precocidade e a profundidade de sua dedicação. Aos 15 anos, convenceu a mãe a deixá-lo ir sozinho a Araraquara para um jogo contra o Rio Branco. Essa autonomia, planejada meticulosamente com seus R$ 80, revela a fibra de um torcedor que não se curva a obstáculos. ?Na ida eu peguei uma carona com um palmeirense que queria saber onde era o estádio, eu disse que não sabia, mas estava indo para lá e fomos.?

Um Diagnóstico Inesperado e a Intensificação de Uma Paixão

A vida de Vitor, ainda que marcada pela superação da leucemia, exigiu acompanhamento médico contínuo. Foi em uma dessas consultas, em 2018, que um alarme falso reverberou em sua paixão pelo Palmeiras . Um diagnóstico equivocado sobre um problema cardíaco, que supostamente o impediria de vivenciar as emoções do estádio, paradoxalmente, impulsionou-o a intensificar sua presença nos jogos. ?Tive um diagnóstico errado de um médico sobre um possível problema no coração, que o médico disse que eu teria que parar de ver jogos e ir ao estádio, que não podia ter mais tantas emoções. Foi até um dos motivos quem fez ir a mais jogos.?

Essa experiência, embora baseada em uma premissa falsa, solidificou sua convicção de que cada oportunidade de acompanhar o Palmeiras deveria ser aproveitada ao máximo. ?Depois passei a ir mais, porque eu pensava: ?Poxa, imagina em algum momento por algum tipo de limitação eu não poder ir mais?. Comecei a viajar. Fui para o Rio contra o Flamengo, fui dois seguidos no Allianz, contra Boca e Santos. Foi quando fui a mais jogos, porque se posso ir, tenho essa oportunidade, não posso desperdiçar.? Sua jornada o levou a 89 jogos em estádios, um número que, com os três da fase inicial da Copa do Mundo de Clubes, alcançará 92. Cada partida, cada quilômetro, meticulosamente registrado em uma planilha que detalha distâncias, cidades, estádios, escalações e arbitragens ? um verdadeiro acervo da devoção.

A Filosofia do Torcedor: Resiliência e Realismo no Mundial

A paixão de Vitor não se limita à presença física; ela se estende a uma filosofia de vida, onde a resiliência é a tônica. Ele evita os extremos da euforia e da depressão, compreendendo que as derrotas são inerentes ao esporte e servem para valorizar as vitórias. ?Cada pessoa tem uma relação muito única com esse sentimento e como leva isso para o resto da vida. É uma coisa que eu tento não ver os lados negativos da relação, porque quando perde não quero ficar estressado, triste, deprimido, mas eu acho que faz parte também, porque as derrotas são para justificar uma vitória, um momento especial.? Mesmo nos momentos mais difíceis do clube, sua lealdade nunca vacilou. ?Sempre fui levando isso, mesmo quando o time perdia, passava por um momento triste, no outro dia eu ia para escola com a camisa do Palmeiras . E meus amigos que torciam falavam que eu era maluco. Sempre fui tendo essa relação. Acompanhar o Palmeiras sempre fez parte da minha vida. Não consigo ficar sem ver um jogo, sem acompanhar, sem ver como está.?

A viagem aos Estados Unidos, inicialmente concebida para a Copa do Mundo de Seleções de 2026, foi redirecionada com a criação do Mundial de Clubes. O planejamento financeiro prévio permitiu que Vitor e um amigo embarcassem nessa nova aventura. ?Os ingressos começaram a ser vendidos no ano passado e eu já comprei antes mesmo de comprar as passagens, fui fazer o visto e aí comecei a planejar com um amigo que vai comigo, passagens, hotel. Minha ideia é ficar lá até o Palmeiras ser eliminado e votar depois. Então, quanto mais tempo o Palmeiras ficar, mais eu vou gastar, mas é aproveitar. Vai ser muito legal, vai dar para curtir e aproveitar bastante.?

Apesar da paixão ardente, Vitor mantém os pés no chão quanto às expectativas para o desempenho do Palmeiras na competição, reconhecendo a superioridade dos clubes europeus. ?Seguindo a lógica, os europeus são mais fortes. Não dá para ir com uma expectativa que vai ser campeão e depois frustrar. Então, eu tenho os pés no chão. Acho que se passar de fase já é uma campanha razoável para satisfatória. Se conseguir passar das oitavas, que deve ser um jogo muito difícil, eu vou ficar muito contente. Não dá para colocar uma expectativa na frente do que é a realidade. Acho que dá para disputar em vontade, força física, tentar igualar os jogos para levar para pênaltis e buscar as classificações.? A história de Vitor Hugo é um testamento vibrante da força do espírito humano e da capacidade do esporte de inspirar, curar e unir, em uma jornada que se mede não apenas em quilômetros, mas em resiliência e amor incondicional.

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Comentado em 14/06/2025 19:41 Pode vir, a gente acredita no nosso Verdão!
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Comentado em 14/06/2025 17:30 O Vitor é brabo! Palmeiras, sempre!
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